MURILO ROCHA

Farra olímpica

Redação O Tempo


Publicado em 30 de junho de 2016 | 04:00
 
 
 
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O legado desastroso da Copa do Mundo no Brasil não serviu de lição para evitar a repetição do mesmo roteiro nas Olimpíadas do Rio. E o pior, mais uma vez, quem irá pagar as contas é o contribuinte. Se no Mundial de futebol ainda foi vendida de forma criminosa a ilusão de um impulso econômico ao país junto com o torneio – isso de fato nunca ocorreu, pelo contrário –, agora o fracasso financeiro e social do evento já é anunciado antes mesmo do começo dos Jogos. Tudo com o aval do Poder Público.

Nesta quarta-feira (29), por exemplo, o Tribunal de Contas da União (TCU) – o mesmo responsável por reprovar as contas da presidente afastada Dilma Rousseff – se posicionou favoravelmente à destinação de recursos da União para o governo do Estado do Rio de Janeiro. O dinheiro, R$ 2,9 bilhões, seria destinado principalmente para o reforço da segurança durante o período olímpico. Na prática, a medida tenta evitar uma paralisação de policiais militares e civis; as duas corporações se queixam de salários atrasados e ameaçam um boicote nos dias dos Jogos.

Ou seja, dinheiro público irá bancar um rombo causado por sucessivas má administrações do Estado do Rio, governado nos últimos anos pelo PMDB (Sérgio Cabral e Pezão), mesmo partido do presidente interino Michel Temer. Na prática, a ajuda de Temer ao Rio é uma auto-ajuda. Uma crise antes ou durante os Jogos em nada contribui para um presidente ainda em estágio probatório, cujo mandato já é considerado ilegítimo ou visto com suspeição por boa parte da imprensa internacional.

Na última sexta-feira, o “New York Times” dedicou um bom espaço para mais uma vez destrinchar justamente essas contradições de se realizar um evento do porte de uma Olimpíada em um país e em uma cidade com tantos problemas. O jornal cita algumas das falsas promessas embutidas na propaganda dos Jogos, como por exemplo a despoluição da baía de Guanabara e o crescimento dos gastos na última hora em relação às previsões iniciais. Também é lembrado o desabamento da ciclovia em abril, recentemente construída, resultando na morte de duas pessoas. Tudo isso, lembra o jornal norte-americano, em meio a sucessivos escândalos de corrupção e um processo de impeachment de uma presidente em andamento.

O espanto da imprensa internacional com a situação brasileira não encontra eco por aqui, onde tudo parece ter se tornado normal. Nessa quarta-feira (29), o Senado dando seguimento ao projeto aprovado na Câmara também deu aval ao reajuste do Judiciário. As contas da União não fecham, como não se cansam de lembrar Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mas o governo continua a fazer seus agrados à parte de cima da pirâmide. O arrocho, mais uma vez, será nas costas do trabalhador, via reformas na Previdência e nos direitos trabalhistas. 

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