MURILO ROCHA

PSDB hoje é o PMDB ontem

Redação O Tempo


Publicado em 17 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Principal aliado do PMDB, das articulações para a tramitação e a aprovação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff até a montagem do atual governo, o PSDB não só tem lembrado ao Planalto o tamanho da dívida para manter a frágil governabilidade da gestão Temer, como tem imposto a ele uma taxa de juros crescente. Em menos de um mês, caso se confirme a indicação do ex-ministro do STF Carlos Velloso para chefiar a pasta da Justiça, o partido terá abocanhado dois postos estratégicos dentro e fora do Executivo. Um deles, já praticamente confirmado (ainda falta o aval do Senado), é o de Alexandre de Moraes para a Suprema Corte. O outro é o do jurista mineiro. O nome de Velloso foi levado pessoalmente a Temer pelo senador Aécio Neves (PSDB).

Com as articulações, o PSDB manteria os seis ministros na Esplanada, só um a menos se comparado ao PMDB, e ainda ganharia um nome de alta confiança no STF. Em tempos de Lava Jato, vale lembrar: entre outras atribuições, o Ministério da Justiça é o que está hierarquicamente acima da Polícia Federal, e todas as ações contra políticos com foro privilegiado terão provavelmente como revisor no Supremo Alexandre de Moraes.

O aumento do poder de influência dos tucanos não está só ligado à saída de Dilma. Hoje, a sigla é indispensável para a manutenção do governo Temer. Recentemente, é bom destacar, lideranças do partido manobraram para protelar o andamento da ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a impugnação da chapa Dilma–Temer, eleita em 2014. O pedido de procrastinação ocorreu justamente quando a Corte eleitoral amealhava mais provas indicando supostas fraudes no pleito de 2014. Curiosidade: o autor da ação é o próprio PSDB.

A relação de dependência criada entre os dois partidos é bem conhecida do PMDB e da vida política brasileira. A novidade agora é a inversão de papéis. Os peemedebistas sofrem na pele pelo veneno que sempre foram especialistas em aplicar.

Já o PSDB, cada vez mais empoleirado no poder, vive uma realidade ambígua. A participação ampliada no governo Temer não garante capital político ao partido com vistas a 2018 e ainda pode implicar num desgate desnecessário, caso os níveis de popularidade e aprovação dos atuais ocupantes do Planalto continuem a despencar. Em pesquisa recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada anteontem, o senador Aécio Neves, candidato à Presidência pela sigla em 2014, aparece apenas em quarto lugar, atrás de Lula (PT), Marina Silva (PSB) e Jair Bolsonaro (PSC).

Por outro lado, o empoderamento dos tucanos pode não se tratar de ambição, mas de instinto básico de sobrevivência. A proximidade com o poder, mesmo sem ser uma garantia, pode diminuir sobre o partido o impacto devastador esperado dos próximos capítulos da Lava Jato – leia-se: a publicidade dos depoimentos dados por 77 executivos da Odebrecht nos acordos de delação premiada.

Durou pouco. A estranha escolha do vereador Gilson Reis (PCdoB) como líder do governo Kalil na Câmara de BH durou menos de dois meses. Com o fracasso, Kalil (PSB) prometeu assumir ele mesmo a interlocução com os parlamentares. A conferir.

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