MURILO ROCHA

Ruim na seca, ruim na chuva

Redação O Tempo


Publicado em 21 de janeiro de 2016 | 03:00
 
 
 
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No início do ano passado, acreditando nos dados e nas previsões feitas pelos governos, sofríamos e esperávamos por um ano apocalíptico em razão dos baixos índices pluviométricos e, consequentemente, do esvaziamento acelerado dos principais reservatórios de água das regiões metropolitanas do país, em especial, no Sudeste. E o pior ocorreu, mas não na proporção esperada. Em cidades como São Paulo, parte da população amargou racionamento e rodízio no abastecimento. Em Minas Gerais, o governo do Estado negou a adoção dessas medidas, mas, frequentemente, durante todo o ano de 2015, bairros de Belo Horizonte, por exemplo, ficaram por até três dias sem água. A alegação de obras no sistema foi vista com desconfiança, pois apenas teria ocultado um racionamento na capital mineira. Apesar dos tropeços aqui e ali, sobrevivemos ao período de estiagem.

Veio 2016 com muita água e, como esperado, com muitos problemas também. Cidades inundadas, famílias desabrigadas, deslizamento de encostas, mortes, estradas destruídas, ruas esburacadas. E a desculpa oficial agora é o excesso de chuva. Tanto o período de seca quanto o de chuvas só comprovam algumas verdades já sabidas e repetidas ano após ano: as cidades brasileiras estão falidas do ponto de vista estrutural, as obras para prevenir os danos causados por fenômenos climáticos não saíram do papel ou são insuficientes, e a natureza – com variações de temperatura aqui e acolá e a intensidade de algumas ocorrências – continua a mesma. O normal para os meses de outubro a janeiro é a chuva, e, até agora, para azar ou sorte, só choveu 70% do histórico para o período. Os últimos dois anos de estiagem prolongada eram atípicos – apesar de estarem mais frequentes nas últimas décadas.

Na capital mineira, conforme publicado por O TEMPO na edição do dia 19 de janeiro, pelo menos sete obras se repetem desde 2013 na lista da prefeitura como medidas de prevenção a enchentes na cidade. Quatro delas já deveriam ter sido concluídas, e todas as sete, além de atrasadas, também tiveram o valor elevado. Ou seja, como nos últimos anos a chuva não foi um grande problema em Belo Horizonte, as obras foram proteladas, e o dinheiro foi usado para tapar outros “buracos” da administração municipal.

Assim, como ocorre aqui, prefeituras, governos e a União só agem de forma posterior às tragédias. Provavelmente, como o ano começou com muita chuva, as obras para remediar os períodos de estiagem serão esquecidas, adiadas e só voltarão ser priorizadas quando o problema já for realidade novamente. Faça sol ou faça chuva, boa parte das cidades brasileiras estará enfrentando problemas por omissão do poder público e saturação dos modelos de urbanização de grandes, médios e até pequenos municípios. 

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