Erick Sarto
Diretor de Recursos Humanos - Treinamento & Desenvolvimento para Internacional na Paramount
Estive em São Paulo no dia 14 de maio de 2025, participando de um evento da Fundação Dom Cabral (FDC) sobre ambidestria organizacional. Saí com a clareza de que, hoje, as empresas precisam ser capazes de atuar em dois mundos ao mesmo tempo: operar com eficiência no presente e, simultaneamente, explorar o futuro.
Esse movimento dual está no centro do paradoxo da inovação, conceito que descreve a necessidade de operar com eficiência no presente e, simultaneamente, explorar o futuro para garantir a sobrevivência e o crescimento organizacional. Como mostram os estudos de Michael Tushman e Charles O'Reilly, inovar com consistência exige equilíbrio entre a explotação, que aprimora processos, aumenta a produtividade e consolida o que já funciona, e a exploração, voltada à busca pelo novo, à experimentação e à variação.
Essas duas dimensões não são mutuamente excludentes, mas coexistem em tensão. O verdadeiro desafio, portanto, não está em optar entre o que já deu certo e o que ainda pode dar certo, mas sim em cultivar ambas as capacidades ativamente, com intencionalidade e clareza estratégica.
Três pilares
Para isso, é preciso trabalhar sobre três pilares: o portfólio de inovação, combinando iniciativas de diferentes graus de ambição; a arquitetura e o desenho organizacional, que devem oferecer estruturas flexíveis capazes de permitir rotas simultâneas de execução e experimentação; e as práticas gerenciais, que ajudam a governar essa tensão, como a distribuição de tempo entre explotação e exploração.
Não é encontrar um caminho do meio, mas aprender a dançar entre extremos, com clareza estratégica, sabendo alocar recursos e tomar decisões conscientes. Nesse processo, a estratégia deixa de ser controle rígido e passa a ser uma construção dinâmica, em que líderes fazem escolhas sobre o agora para construir o amanhã.
Liderar nesse contexto é aceitar o desconforto, lidar com contradições e cultivar novos líderes. É necessário saber tomar decisões difíceis, especialmente relacionadas às pessoas, e criar um ambiente onde a complexidade seja um convite, não um obstáculo. Hoje, a liderança precisa ser ao mesmo tempo autêntica, transparente e capaz de dar significado ao trabalho em meio ao caos.
Versatilidade
Em paralelo, o modo de liderança deve ser versátil. A explotação exige uma abordagem transacional, com foco na execução, metas e eficiência. Já a exploração requer uma postura transformacional, com incentivo à criatividade, aceitação de riscos e espaço para experimentar.
Como destacou a professora da FDC, Ana Burcharth, durante o evento, a inovação é o ponto de partida da ambidestria. E é esse equilíbrio consciente entre presente e futuro que garante a sustentabilidade das organizações e a relevância de suas equipes em um mundo em constante transformação.
A ambidestria organizacional, portanto, é uma escolha estratégica profundamente humana. É colocar as pessoas no centro da tensão, dando a elas estrutura, liberdade e propósito para caminhar com firmeza na trilha do presente e da transformação.