Lúcio Júnior

O ócio tóxico - quando nem o celular pode parar para recarregar a energia

O descanso deve ser livre de culpas

Por Lúcio Júnior
Publicado em 05 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Não use o celular enquanto a bateria está carregando!

Você já deve ter recebido esse alerta e ter desrespeitado.

Os casos de acidentes nesse contexto são raros.

Isso não quer dizer que não pode acontecer com você ou  com alguém querido.

Pelas contas da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade, no primeiro semestre de 2021, no Brasil, foram registrados 10 casos de choque elétrico enquanto o aparelho estava sendo recarregado. Seis pessoas morreram.

Moral da história: até celular precisa recarregar a bateria em paz para não ferir, para não explodir!

Até celular precisa de ócio!

O problema é lidar com o ócio.

Eu tenho uma mania estranha de pesquisar o significado das palavras, por mais que eu saiba o elas queiram dizer. O motivo? É que a conotação – o sentido da palavra – às vezes, prejudica a definição de fato do termo.

No dicionário, ócio quer dizer repouso, descanso, folga. Na boca do povo, significa preguiça.

Com uma imagem dessa, quem tem coragem de ter tempo ocioso?

O autor italiano, Domenico de Masi, ofereceu uma alternativa para nos tirar a culpa por descansar: colocou um criativo depois do ócio. Defendeu que o descanso é fundamental para abrir espaço para novas ideias e solução de problemas.

Pronto, o ócio criativo é festejado.

Já se pegou com um caderninho na mão a postos para anotar a novidade vinda do tempo de relaxamento?

O problema é que, se exigimos algo do ócio além de sua função _ proporcionar descanso,  acabamos com a autenticidade do processo.

Acreditar que vamos ter novas ideias enquanto descansamos é transformar o ócio – que pode, sim, ser criativo – em ócio tóxico, para não perder a chance de usar o termo da moda.

O ócio tóxico é aquele que você aproveita para... é o famoso “já que”, é o que  transforma o tempo de folga em uma desculpa inconsciente  para você continuar com a cabeça no mundo do trabalho, no modo produtividade.

Já que estou tomando Sol na praia, vou ler um livro para aprimorar meus conhecimentos. Já que tenho 30 dias direto de férias,  vou  fazer uma imersão no inglês. Já que estou passeando na cidade X, vou aproveitar para conhecer pessoalmente um cliente. Já que tenho tempo livre, vou turistar ao máximo. E terminamos o período de recesso exaustos!

Não estou fazendo uma campanha contra o aprimoramento profissional, contra o turismo. Só estou propondo uma reflexão sobre a importância de recarregar as energias de forma segura, sem que a gente corra o risco de dar choque no meio do recarregamento, porque continuamos exigindo de nós mesmos quando deveríamos estar em repouso.

Proponho que o período de ócio seja um intervalo para não exigência, para se viver absolutamente no agora. Sei que isso é utopia, principalmente no mundo adulto, em que algumas demandas não param com as férias – caso do cuidado com os filhos.

Proponho, no fundo,  que o ócio seja livre de culpa e que cada um use seu tempo de folga para descansar de verdade.

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