Open Mind Brazil

Timing das coisas e perfeição dos resultados imperfeitos

(Ou Deus escreve certo por linhas tortas)

Por Lúcio Júnior
Publicado em 15 de dezembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Pessoa/fato na hora certa e no lugar certo. Essa é a definição clássica de timing.

Na comédia, o timing é o que define a qualidade do humor. O texto pode ser excelente, mas se a tirada não acontece no momento ideal, o riso corre sério risco.

No relacionamento, o timing perfeito se revela quando o casal está em um mesmo momento de vida, buscando objetivos que seguem na mesma direção.

No esporte, o timing traz brilho à jogada. Pense em uma partida de tênis em que os jogadores rebatem a bola quase com a mesma força e velocidade com que recebem. Mas, e quando vem aquele leve toque em que a bolinha vai para um lado inesperado, e o atleta não chega a tempo? Timing perfeito e muita vibração.

E em um negócio? Quantas vezes falamos e ouvimos que não se pode perder o timing? Nem antes, para que o contrato não fique desequilibrado, nem depois, para que os valores não sejam insatisfatórios.

Timing é o momento oportuno, o melhor ponto na linha do tempo para o desenrolar de uma situação.

O grande desafio é identificar qual é o timing das coisas. Perceber não é fácil, principalmente porque estamos quase sempre no modo reativo. É pá-pum!

A negociação vai por um caminho não previsto, alguém tem um comportamento inesperado, outro fala algo que surpreende, e reagimos de acordo com as informações que temos no momento ou, pior, pautados pelo calor das emoções.

Saber o timing das coisas requer maturidade, preparo, sensibilidade, jogo de cintura.

Em última análise, agir no melhor momento exige autoconhecimento.

Seguir ou paralisar? Paralisar ou retroceder? Falar ou calar?

Só teremos essas respostas se soubermos o que nos move, como somos afetados pelas situações, falas e comportamentos. Que gatilhos agem contra e a nosso favor.

Penso que, algumas vezes, nem é uma questão do timing das coisas, mas o timing em nós. É uma questão de quanto cada um está alinhado consigo mesmo para ter clareza e inspiração sobre o melhor momento para colocar-se.

Só se consegue isso com autoanálise. Desvendar-se pode trazer este grande presente: saber o timing das coisas.

Quando atingimos esse ponto, ficam cada vez mais raras frases como: eu deveria ter dito aquilo, eu deveria ter ficado quieto, eu deveria ter fechado naquela hora, eu deveria...

Isso não quer dizer que teremos sempre o resultado que esperamos, quer dizer que o resultado foi o melhor possível para aquele momento.

Pensando bem, será que somos nós que fazemos o timing?

Será que o timing não é sempre perfeito?

Será que perder o timing não pode ser uma bênção?

Às vezes, naquele exato momento, calar o que deveria ter sido dito salva um relacionamento, não fechar um negócio salva uma empresa, falar o que deveria ter ficado em silêncio provoca mudanças positivas.

Não temos controle total sobre o resultado das nossas ações, mesmo que aconteçam no tempo perfeito. Mas sempre podemos ir para a cama com a sensação de que fizemos o melhor que podíamos.

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