Escrever dá medo. Dá medo porque é uma mistura de nós mesmos com as coisas que nos tocam e que nos emocionam. A amálgama que o anseio pela liberdade e o respeito aos direitos iguais, independentemente de cor, raça ou gênero, produzem é uma liga desafiadora. Escrever ou reler a vida de alguém pela lente da busca pela liberdade comove escritor e leitor. Escrever é um exercício de olhar para si mesmo e para aquilo que damos conta de compreender deste mundo e dos seres que habitam aqui. 
 
Fui convidado, a pedido do editor das Edições Cândido, Jean Cândido Brasileiro, a fazer a apresentação da obra de Carmen Lúcia Brettas intitulada “Mandela: A Liberdade como Inspiração”. O texto é uma contribuição suave e delicada ao aprofundamento da vida desse ser humano incrível que o poder de alguns homens tentou sufocar. O texto é um exemplo de quem vence o medo de escrever: cada um de nós pode contribuir com seu olhar e compreensão, diz a autora. A escritora dá eco a tudo o que Mandela repetia: nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso medo mais profundo é que sejamos poderosos demais. É nossa sabedoria, não nossa ignorância, o que mais nos apavora. 
 
A autora apresenta os pontos-chave da vida de Nelson Mandela e nos ajuda a construir um olhar para as nossas atitudes possíveis de transformação e contribuição a este mundo tão carente de exemplos e de visões inspiradoras que, de fato, movam outros. O movimento é tudo, ele é o embrião da inspiração. A experiência vem da exposição. Expor-se e manter o foco é a receita que a autora nos apresenta a partir de seu olhar para a vida de Mandela. Ele foi persistente, determinado e manteve o foco. 
 
Esse ícone da história da humanidade posicionou-se contra o Apartheid (vida separada), que era o regime de segregação racial existente na África do Sul, que obrigava os negros a viver separados, negando a eles os direitos sociais, econômicos e políticos. Foi um dos regimes de discriminação mais cruéis no mundo. O governo segregou a saúde, a educação e outros serviços públicos. O regime do terror trouxe muita violência, um movimento de resistência interna e um longo embargo comercial contra a África do Sul. 
 
A obra é cheia de exemplos inspiradores para quem quer aproximar-se da vida de Nelson Mandela. O texto deixa claro que ele tinha conhecimento do grande trabalho que teria – e que temos como seres humanos – pela frente e que os pilares indicados na obra, a saber, amor, esperança, perdão e gratidão, demandam ações contínuas e que, mesmo quando estamos celebrando, vamos nos lembrar de que nosso trabalho está longe de estar completo – nosso trabalho é por liberdade para todos. 
 
Um trabalho que renasce a cada dia, a cada momento e a cada atitude de resistência e de posicionamento. Nas garras ferozes das circunstâncias não me encolhi nem derramei meu pranto. Golpeado pelo destino, minha cabeça sangra, mas não se curva. No dia 12 de junho de 1964, Mandela foi condenado à prisão perpétua com outros sete militantes. Todos se recusaram a apelar da sentença. O exemplo não só fala, ele inspira. Boas escolhas! 
 
*Otávio Grossi, é filósofo, mestre em psicologia, graduando em psicologia, psicopedagogo de autistas. Mentor de empresários e atletas. Autor de “ Conquistas autênticas" e coautor de “Sobre rodas”, das Edições Candido- RJ. É colunista fixo do jornal O Tempo e especialista do programa Interessa, nas quartas-feiras, na rádio Super FM.