OTÁVIO GROSSI

E você? Tem tempo?

'Os especialistas são unânimes sobre a importância da construção das escolhas. Das escolhas nascem as dores e nascem os alívios'


Publicado em 15 de novembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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“Tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda, eu sei, pra você correr macio. Tempo amigo, seja legal. Conto contigo pela madrugada. Só me derrube no final!” A música de Fernanda Takai, do grupo Pato Fu, coloca-nos de frente a um dos maiores geradores de dores emocionais: o tempo, sua gestão e os impactos das escolhas diante dele! Seja quando vemos o tempo passar no espelho, seja quando vemos nossos projetos batendo à porta, seja quando as expectativas nos frustram, o tempo sempre é imperativo. Gerenciar esse indicador é, para muitos, um grande desafio.

O segredo dos hiperprodutivos é muito mais simples: eles aprenderam a escolher e – detalhe –com método. Os especialistas são unânimes sobre a importância da construção das escolhas. Das escolhas nascem as dores e nascem os alívios. Saber o que fazer, se é urgente, se é importante – eis a questão. Este imperativo é chamado de “matriz de Eisenhower” ou “princípio da decisão”. Outros especialistas dirão da escolha das suas três tarefas mais importantes no dia e do foco dado a elas; ou seja 70% dos seus resultados estão ligados a esses 30%. Dedique-se a eles e irá avançar.

Para além das fórmulas mirabolantes, o que temos em nossa frente é a decisão. O que tenho aprendido e ensinado para muitos atletas que acompanho é que perdemos tempo demais. Hoje, mais do que em qualquer época, os estímulos para nos retirar o foco são enormes. Do looping das mídias sociais aos aplicativos de mensagens e às pesquisas inúteis, principalmente com o olhar focado no que o outro está fazendo... tudo isso suga nossas energias e nos deixam como que em transe. 

Já na conclusão do Setembro Amarelo e abrindo as portas para o Outubro Rosa, fui convidado para fazer uma intervenção em uma rede de academias de Belo Horizonte. A proposta era simples, mas ousada: dar um recado sobre a importância das leituras das próprias dores emocionais e buscar compreendê-las mais e superá-las pela escuta. E foi com essa intenção que fiz uma pergunta direta: você tem tempo? Eu não disse para o quê nem quem eu representava ali. Foi uma pergunta direta e objetiva. A resposta foi igual: não, não tenho tempo. Alguns ainda responderam: não posso agora, estou correndo para treinar.

Quando resolvi abordar diretamente quem estava em um intervalo do treino, aí foi curioso. A necessidade de viver o momento no qual se está roubava de todos a percepção do real. Perguntei se tinham dores emocionais e quais eram os maiores geradores delas. Sempre ele: o tempo. Seja quando a esposa não tinha tempo de qualidade, seja quando o líder da empresa não parava para ouvir, seja no vazio de não ter tempo para si mesmo... era sempre ele, o tempo, o vilão. Confesso que saí de lá com um vazio enorme.

Olhava para aquelas pessoas em seus treinos, cliques e áudios enviados, um grupo frenético de pessoas que, não obstante as grandes conquistas autênticas geradas pelas atividades físicas, se jogavam, adoecidamente, no que a pressão do tempo quer fazer com você: fazer você não ouvir a si mesmo, nem ao seu corpo. Saí a pé, caminhando na direção da minha casa. Andava pensando e olhando o mundo. Minha surpresa maior estava por vir. À minha frente, um jovem caminhava com o auxílio de uma bengala branca para guia. Ao pararmos juntos no sinal entre a rua Bahia e a Contorno, perguntei: posso ajudar? Ele prontamente direcionou a sua mão e eu a coloquei em meu ombro. Sentia naquele momento o quanto simplesmente não vivemos porque não sentimos o tempo. Em uma breve conversa, mas não pouco intensa, antes de nos separarmos, ele me disse: “obrigado, Otávio, por ter tido tempo para mim”! Fui ajudar e eu que aprendi. O mundo é uma escola... boas escolhas! E você? Tem investido seu tempo em quem? 

*Otávio Grossi, é filosofo, mestre em psicologia, psicopedagogo de autistas, mentor de empresários, escritor do  livro “Conquistas Autênticas”, da editora Candido. É colunista do jornal O TEMPO e participante do programa Interess@, nas segundas-feiras, na rádio Super 91,7 FM.  

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