PAULA PIMENTA

À moda antiga

Redação O Tempo


Publicado em 21 de junho de 2014 | 03:00
 
 
 
normal

Tenho uma amiga que se casou há poucos meses. Casamento tradicional, com direito a igreja, véu, grinalda, damas de honra e comemoração. E que comemoração! A festa foi organizada com o intuito de não deixar ninguém sair insatisfeito. O banquete estava impecável, a música não deixou ninguém com vontade de ficar sentado, e a felicidade dos noivos parecia contaminar cada um dos convidados. Tudo perfeito, não fosse por uma questão que me assombra a cada vez que compareço a um evento desse porte: Será que vale a pena investir tanto em uma noite sendo que os casamentos têm durado cada vez menos?

Por que essa abreviação do casamento não acontecia no passado? Por que na época em que a minha mãe se casou o casamento era planejado para durar até a morte e nos dias de hoje é feito para ser eterno apenas enquanto dure? Por que antigamente ele prolongava pela vida inteira e hoje em dia sobrevive poucos anos? 

Acredito que dois fatores tenham gerado essa mudança.

Em primeiro lugar, acho que a primeira culpada da falência matrimonial foi a emancipação feminina. Não que tivesse essa intenção, foi apenas um efeito colateral da liberdade que adquirimos com os anos. Antigamente, a mulher passava diretamente das mãos do pai para as do marido. Ela era sustentada por ele e com isso tinha que abdicar dos seus desejos. Quando começou a participar ativamente no mercado de trabalho, passou a ter coragem para expressar sua vontade própria e deixou de aceitar tudo o que lhe impunham. Hoje, se o casamento começa a desmoronar, o último dos fatores que a mulher leva em consideração para mantê-lo é o dinheiro. Ela pode conseguir isso por ela mesma e ser mais feliz morando sozinha ou com outra pessoa.

O segundo fator é que no passado o divórcio não era bem visto. Quem se separava era considerado um desajustado, uma pessoa que não era adequada para a sociedade e com isso casamentos eram mantidos apenas pela aparência. Quando o divórcio se tornou popular, as pessoas separadas se tornaram normais e até comuns.

Apesar de considerá-los os primeiros responsáveis pelo encurtamento dos casamentos, não
acredito que esses motivos sejam os únicos. As mulheres poderiam ser emancipadas e o divórcio bem aceito sem que para isso o casamento precisasse ter sua estimativa de vida diminuída. Os principais culpados por isso são as próprias pessoas que fizeram com que o ato de se casar se tornasse um evento corriqueiro, uma simples experiência a mais na vida. As pessoas estão se casando apenas para mudar o estado civil, já pensando que, se não gostarem, poderão voltar à condição anterior facilmente. Depois é muito fácil culpar a “instituição casamento”, como se todos que se sujeitassem a participar dela estivessem fadados ao fracasso.

O casamento continua o mesmo. O marido e a esposa é que mudaram. Perderam a paciência. A tolerância. O romantismo. A vontade de passar a vida inteira ao lado de uma só pessoa. Com isso perderam também a chance de experimentar o matrimônio em sua plenitude.

Estou discorrendo em torno do que eu escuto e observo nos casamentos modernos. Não posso dizer com certeza de quem é a culpa. Mas posso afirmar que, quando eu me casar, será conscientemente. Eu acredito que o amor foi feito pra durar um pouco mais. Quero um marido que queira não apenas uma esposa, mas um lar, uma família. Que saiba que passar vários anos juntos pode não ter muita novidade, mas que o aconchego de ter ao lado alguém que o conheça e aceite seus defeitos e manias compensa a solidão que os amores transitórios deixam. Não quero ser uma esposa provisória. Sou à moda antiga. E tenho a intenção de ficar para sempre.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!