PAULA PIMENTA

Amores Mastercard

Redação O Tempo


Publicado em 28 de junho de 2014 | 03:00
 
 
 
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Meu amigo me contou um caso um tempo atrás que me deixou meio indignada. Ele gostava de uma menina há tempos, e a tal nunca tinha dado bola pra ele. Ele possuía um Santana velho. Resolveu trocar o carro e comprou um Honda. E não é que a garota passou a “gostar” dele no mesmo minuto? Mas o que me deixou revoltada não foi a reação dela, e sim a dele! Ele ficou superfeliz por ela finalmente ter caído em seus braços, sem levar em consideração o motivo. 

Uma outra vez, outro amigo me disse que bastava contar a sua profissão para as mulheres já o olharem com outros olhos, só de saber o “título”. Não queriam nem tentar descobrir se ele era chato, mal-educado, pão-duro, ranzinza ou mulherengo. Babavam pelo que ele era por fora. Pelo status que ele tinha. 

Sei que existem vários motivos que nos fazem gostar de alguém, mas eu realmente não gostaria que alguém se interessasse por mim por causa do carro que eu tenho. Ou das roupas que eu visto. Ou pelo lugar onde eu moro. Ou por ter uma profissão bem-remunerada. O carro pode ser batido. As roupas podem ficar fora de moda. Eu posso mudar de endereço. Posso me machucar e ter que me aposentar. E aí? A pessoa vai gostar do meu carro amassado, das roupas ultrapassadas, da casa alugada, do meu status de aposentada precoce?

Conheço muitas mulheres que deixam de sair com um cara se ele não tem carro ou não paga a conta. Não importa que ele seja um príncipe. Se não tem uns três cartões de crédito na carteira, perdeu a chance. Que venha o próximo que as possa abastecer de momentos dignos de comerciais de cartão Mastercard, que – diga-se de passagem – não serve pra comprar amor.

Eu gosto do meu namorado pela alegria que sinto quando estou com ele e porque sei que fica o maior vazio quando ele não está perto. Gosto do jeito que ele tem de me mimar, de fazer com que eu me sinta amada, do tom de voz que ele tem, da forma com que franze as sobrancelhas quando está pensando, das brincadeirinhas que faz. Gosto dele por ser bem-humorado na maior parte do tempo, pelo amor que tem pela família, pela generosidade com o mundo inteiro, pela inteligência natural, pelo jeito que dorme (literalmente) em um piscar de olhos, pelo pulo que meu coração dá quando ele me liga e eu escuto a nossa música vindo do celular, pela tristeza profunda que eu sinto nas poucas vezes em que a gente discute e pelo ciúme que me deixa louca de raiva quando percebo qualquer uma se aproximar dele. Gosto do que ele tem no interior. Ele pode ficar pobre, desistir da profissão, ter que andar de ônibus que eu vou gostar do mesmo jeito. Já a namoradinha que o meu amigo arrumou vai embora no minuto em que aparecer outro com um carro mais caro.

Gostar de alguém pelo que a pessoa tem é ilusório. Os bens materiais que possuímos podem se perder em um segundo, o cartão de crédito tem data para expirar. Já o que somos, na essência, vai durar por toda a vida, não tem prazo de validade. 

Eu prefiro que meus amores sejam constantes em vez de transitórios. Um carro legal podemos conseguir por nós mesmos. Uma profissão bem-remunerada basta que façamos por onde. Agora, sermos amados pelo que somos, isso dinheiro nenhum pode comprar. E não adianta a Mastercard querer me provar o contrário... 

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