PAULA PIMENTA

Beleza própria

Redação O Tempo


Publicado em 21 de março de 2015 | 03:00
 
 
 
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I love to hear her speak, yet well I know

That music hath a far more pleasing sound;

I grant I never saw a goddess go;

My mistress, when she walks, treads on the ground.

And yet, by heaven, I think my love as rare


As any she belied with false compare.

(William Shakespeare)

Meu namorado reclamou porque eu disse que prefiro seu corpo um pouco mais “cheinho”. Ele disse que eu quero o seu mal, que não gosto de vê-lo em forma, que eu desejo que ele ande feio por aí. Mas o que ele não entendeu é que é exatamente o contrário: eu o considero mais bonito com recheio do que sem. Sei que a referência que temos de beleza, atualmente, são modelos anoréxicas, que a moda prega que quanto mais magro, mais bonito. Mas eu simplesmente não concordo. Acho que algumas pessoas, quando magras, ficam bem. Outras, quando gordinhas. E outras, ainda, no meio do caminho.

Imaginem o Jô Soares magrelo. Perderia completamente o charme. Ao contrário, pensem na Gisele Bündchen gorda. Mais que o charme, ela perderia até o emprego. O que seria do Gérard Depardieu sem o nariz? E se o Ronaldinho Gaúcho raspasse o cabelo? Ambos perderiam a marca registrada, ficariam sem personalidade.

Acho que cada pessoa tem o seu jeito físico próprio e as imperfeições são o que dá o charme, o que realça o restante. É muito fácil amar alguém só pelas suas qualidades, mas amar também os defeitos é que prova que o amor é real.
Uma amiga recentemente colocou silicone nos seios. Só faltou eu chorar quando soube. A menina era perfeita do jeito dela. E agora ela é igual a milhares de outras que acham que para serem bonitas precisam usar sutiã tamanho 44.

Em um episódio de “My so Called Life” (um seriado norte-americano já encerrado, mas que todas as pessoas do mundo deveriam ter assistido), o cara mais bonito da escola começa a namorar uma menina normal, que não era nenhuma modelo, nada popular, apenas uma garota como qualquer outra, bonitinha, mas não de parar o trânsito. O mocinho, no começo, não queria assumi-la publicamente, só ficava com ela às escondidas, no porão da escola. Até que um poema de Shakespeare, esse do trecho que inicia esta crônica, fez com que ele abrisse os olhos e percebesse que a graça da menina era exatamente o fato de ser real, humana, ter defeitos. Isso fazia com que ela fosse única. Ela era bonita para ele, e isso bastava, ele não precisava do aval de mais ninguém, era só pra ele que isso importava. E ele, então, a assume na frente da escola inteira.

A graça de se gostar de alguém está exatamente na escolha, em gostar dessa ou daquela característica que só aquela pessoa tem, da beleza própria dela. Se não fosse assim, se todas fossem iguais, era só pegar a primeira que passasse na frente, afinal, todas seriam iguais mesmo...

Existe gosto pra tudo nessa vida. Minha mãe sempre diz: “O que seria do vermelho se todos gostassem do amarelo?”. Ainda bem, porque se todas as meninas do mundo achassem meu namorado tão bonito quanto eu acho, não ia dar certo, não suporto sentir ciúme.

E agora um recado exatamente pra ele, o “muso inspirador” desta crônica, que eu espero que agora tenha me entendido: você é tão lindo que dói. Hoje, descendo no elevador, eu olhei pra você de terno e cavanhaque e me deu até um aperto no coração por não poder ficar o dia inteiro te olhando e pela certeza de que todas as mulheres por quem você passasse iriam fazer isso, por culpa dessa sua beleza toda. Eu nunca vou te achar menos bonito por causa de três centímetros a mais. Na verdade, vou continuar gostando de você mesmo se você ficar careca e com barriga de chope. Agora deixa de bobeira, vai ali no seu carro comer as Amanditas que eu deixei no porta-luvas e aproveite para aprender com elas que biscoito recheado é muito mais gostoso do que aqueles secos, sem recheio nenhum...

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