PAULA PIMENTA

Fábrica de miss

Redação O Tempo


Publicado em 16 de novembro de 2013 | 03:00
 
 
 
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No último fim de semana foi realizado o concurso Miss Universo. Confesso que adoro o programa, acho que herdei esse gosto da minha avó, pois lembro que eu e ela assistíamos juntas quando eu era criança, sempre elegendo as nossas misses preferidas. Ao final, ficávamos radiantes ou desapontadas, dependendo do resultado. Naquela época, os concursos de miss eram transmitidos pelo SBT e apresentados pelo Silvio Santos. A cada domingo o programa elegia a mais bonita de um Estado, até que ao final se escolhia a Miss Brasil. E então, no dia do Miss Universo, eu torcia pela miss do nosso país como se ela fosse alguém da minha família! Mas logo entendi que o padrão das ganhadoras dificilmente era o das brasileiras... As misses campeãs geralmente eram muito altas, com muito peito, sem muita bunda, louras e de olhos claros.

Desde 1989, Silvio Santos não é mais o apresentador. O programa passou um tempo meio esquecido, sem nem ao menos ser televisionado, mas de uns anos para cá parece que voltou com força total. Eu continuo gostando de assistir (e minha avó também!), mas agora está bem diferente do que era no passado. As candidatas à coroa não têm mais cara de “miss” e sim de “modelos”.

Antigamente as misses tinham mais curvas, mas as meninas que agora desfilam pelo palco do concurso parecem ter vindo diretamente da passarela de algum Fashion Week, e provavelmente a maioria delas tem mesmo alguma experiência como manequim (ainda existe essa palavra?).

Além do corpo, algo mais mudou. Antes, parecia que todas as misses tinham a mesma resposta decorada na ponta da língua. Todas almejavam a paz mundial e tinham “O Pequeno Príncipe” como livro preferido. Agora, pelo que constatei no fim de semana passado, as candidatas estão prontas para discutir qualquer tema, respondem no maior desembaraço perguntas que me deixariam completamente desnorteada, e têm argumentos sólidos, como se estivessem disputando a presidência e não um concurso de beleza.

Quando depois de várias fases escolheram a Miss Venezuela como a nova Miss Universo, um comentarista falou: “Venceu a fábrica”, e então eu pude entender a razão de tamanha desenvoltura por parte dela: Preparo. Assim como as pessoas estudam para o vestibular ou para um concurso público, algumas meninas passam meses se preparando para ser miss. Elas praticam a fala, o andar, o porte, o jeito, o charme. Estudam línguas, etiqueta, diplomacia, história. E, especialmente, consertam o que tem (ou não) que ser consertado.

Lembro que quando eu estava no 1º ano do Ensino Médio, duas colegas fizeram plástica no nariz. As meninas já eram lindas, eu não conseguia ver defeito nenhum no rosto delas. Mas elas cismaram que podiam melhorar. Acho que com as candidatas a miss é assim também. Não sossegam enquanto não está tudo perfeito. E na Venezuela, o país da ganhadora deste ano, ser miss é mesmo uma profissão. Para se ter ideia, essa é a sétima vez que uma venezuelana é eleita Miss Universo e isso é exatamente porque elas não brincam em serviço. Concurso de miss lá é coisa séria, o país inteiro torce, escolhe suas favoritas, e agora até inventaram um reality show – “Todo por la corona” – que mostra o dia a dia das concorrentes, com duração de três meses. Uma espécie de “Big Brother” de misses.

O ex-presidente do concurso Miss Venezuela, Osmel Sousa, é uma espécie de “fada madrinha da Cinderela”. Transforma qualquer garota com potencial em uma verdadeira princesa. Mesmo que para isso ela precise fazer quantas plásticas forem necessárias, fabricar a miss. Segundo ele, a beleza interior não existe: “Isso é algo que as mulheres feias inventaram para se justificar”.

Eu sinceramente acho que o que faz a beleza de uma pessoa são suas peculiaridades. Aquele detalhe que só ela tem, que a faz diferente das outras. Um nariz um pouco grande, um sorriso torto, uma sobrancelha falha... Pequenos defeitos, que o Osmel Sousa provavelmente consertaria, mas que no fim das contas são exatamente o charme de alguém.

Que graça teria se nós fôssemos colocados em um molde e ficássemos todos iguais? O mundo seria o maior tédio. A graça da vida é exatamente enxergar a beleza única de cada um. É ter a certeza de que não passaríamos nem na primeira fase de um concurso de misses, mas saber que alguém no mundo, apesar das nossas imperfeições, nos considera a Miss Universo...

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