Paula Pimenta

Invasão de privacidade

Redação O Tempo

Por Paula Pimenta
Publicado em 14 de dezembro de 2013 | 03:00
 
 
 
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Tenho uma colega que um tempo atrás comentou que estava farta de tecnologia. Ela explicou que no século passado era bem mais fácil não ser encontrada, que hoje em dia o celular, o e-mail e outras “modernices” se encarregam de nos deixar em constante disponibilidade.

Concordo em parte com ela... Também acho que era mais fácil se tornar invisível antigamente, simplesmente sumir sem dar satisfação, se desligar do mundo por um tempo. Mas não troco isso de forma alguma pela facilidade de comunicação atual. Não consigo entender como eu conseguia sair de casa sem levar o celular! E se o pneu furasse? E se eu batesse o carro? E se ficasse presa no trânsito e tivesse que desmarcar um compromisso? E se algo grave acontecesse, como iam me avisar?

Internet, então, é algo que eu não sei como viveria sem. Os e-mails, as mensagens e as redes sociais são os responsáveis por 70% da comunicação que eu tenho com os meus amigos atualmente. Telefone fixo se tornou um mero coadjuvante... Atualmente, os poucos telefonemas das minhas amigas se desenrolam mais ou menos assim:

– Está com o Facebook aberto aí?
– Não, mas o computador está ligado, por quê?
– Fica on-line que eu quero te falar uma coisa.
– Já estou entrando! Beijo, tchau!

Mas o que ganhamos em praticidade, perdemos em privacidade. A última certeza disso veio da “ferramenta de visualização”. Atualmente, na maioria dos programas de mensagens instantâneas, ao lermos um recado, imediatamente um aviso é transmitido para quem o enviou: “visualizado”. O que é uma inconveniência, diga-se de passagem. Porque, em grande parte das vezes, só olhamos o que está escrito pra satisfazer a nossa curiosidade ou pra saber se é algo urgente, mesmo que naquele momento não possamos responder. Só que então, a pessoa do outro lado fica achando que não quisemos dar uma resposta ou que nem ligamos... Será que não podemos apenas estar ocupados para responder no mesmo instante?

Eu realmente sinto saudade dos tempos em que ficávamos ansiosos, imaginando se a pessoa tinha lido ou não... Era bem melhor do que achar que ela leu e não quis responder. Acho que deve ter psicólogo faturando muito às custas das inseguranças que surgiram por causa dessas novas tecnologias.

Outra coisa que assusta nesse mundo moderno é o quanto estamos vulneráveis em termos de proteção. Meu antivírus sempre avisa da chegada de e-mails infectados e são incontáveis os meios que os famosos “hackers” usam para invadir computadores alheios na tentativa de roubar senhas e outras informações. Meu celular mesmo já foi clonado duas vezes. Volta e meia recebo avisos que tentaram invadir minhas redes sociais. E minha prima até teve uma vez sua conta de banco saqueada!

Apesar dessas pragas atuais, não me fartei ainda dessa modernidade toda. Desde que a internet, a televisão a cabo, os telefones celulares apareceram, minha vida ficou bem mais fácil e ágil. Claro que tem hora que dá saudade de escrever uma carta de próprio punho em vez de digitar, ou de ouvir um disco de vinil em vez de uma MP3. Mas, saudosista que sou, sempre tenho um caderno para anotar o que me vier à cabeça e o meu toca-discos ainda funciona perfeitamente.

Voltando à minha amiga do começo, o que eu disse pra ela é que o bom dessa era tecnológica é que a própria apresenta algumas alternativas para o cansaço: Se não quisermos responder o aviso de recebimento de um e-mail, podemos deixar para a pessoa que o enviou ficar sabendo que recebemos apenas no momento em que enviarmos a resposta... Se alguém não quiser ser encontrado, pode simplesmente desligar o celular por um tempo (menos namorado, isso devia dar prisão perpétua!). E eu espero que criem logo uma alternativa para os avisos acusadores de recebimento do Facebook e WhatsApp...

Apesar da exposição que o mundo virtual nos proporciona, ainda precisamos guardar algum mistério e ter emoções nessa vida... Prefiro voltar ao século passado que perder a chance de ser surpreendida de vez em quando.

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