PAULA PIMENTA

O filme da minha vida

Redação O Tempo


Publicado em 07 de junho de 2014 | 03:00
 
 
 
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A nossa vida deveria ser filmada. De vez em quando, me pego relembrando algum momento feliz que vivi e inevitavelmente me vem a vontade de revivê-lo. Como seria bom se pudéssemos – como em um filme – rebobinar a fita e ver de novo aquela cena especial. Claro que podemos comprar uma filmadora, mas os acontecimentos mais especiais são aqueles não programados, que acontecem quando não estamos esperando.

Fico imaginando, por exemplo, como eu gostaria de me ver na infância, no primeiro dia de volta às aulas. Tinha toda uma preparação. Minha mãe saía comigo para comprar novos livros, cadernos, uniforme... Em seguida, encapávamos tudo, preparávamos o lanche na nova merendeira, e no momento de acordar cedinho no primeiro dia de aula eu nem reclamava, levantava na maior expectativa para rever os colegas e conhecer os novos professores. Esse dia tinha mais cara de ano novo do que 1º de janeiro. Talvez seja por isso essa sensação boa que sempre me vem quando eu sinto cheiro de livro novo.

As brincadeiras na rua da minha casa com certeza dariam uma comédia e tanto. Como eu gostaria de poder assistir a alguma das vezes em que eu bati a campainha da casa dos vizinhos e saí correndo, simplesmente porque isso parecia engraçado!

Como seria gostoso rever minhas saídas na adolescência. O ritual da escolha da roupa, maquiagem, encontrar as amigas, sorrir, rir, ver o menino paquerado e sentir o coração quase sair pela boca, dormir e acordar pensando nele, se sentir muito adulta e muito menina ao mesmo tempo.

Gostaria tanto de assistir à minha expressão ao receber o primeiro beijo da minha vida... Com certeza, ao rever essa parte, eu tamparia o rosto com uma almofada como faço em cenas constrangedoras que assisto nos filmes.

O dia em que eu fui fazer intercâmbio deve ter dado uma cena dramática. Família e amigos no aeroporto, declarações de amor e carinho, risos, choradeira... Acho que mais emocionante do que esse dia, só mesmo o dia em que eu voltei.

Seria tão bom poder ver de novo o momento em que eu soube que tinha passado no vestibular... Imagino que assistir a essa cena seria o mesmo que ver aquelas partes de expectativa dos filmes, quando ficamos torcendo pelos protagonistas e – ao constatar que eles conseguiram o objetivo – praticamente comemoramos junto!

Gostaria de poder rever pequenas passagens do meu dia a dia, aquelas em que de repente nos pegamos sorrindo e pensamos “sim, nesse momento eu sou feliz!”. Certamente seria interessante observar como alguns instantes aparentemente sem importância podem nos dar tanta satisfação.
Tenho certeza de que, se eu pudesse ver novamente o filme da minha vida, teria muito a absorver daquilo que passei. Lições que a gente aprende e esquece com certeza teriam muito mais proveito se tivéssemos a chance de repassar mais de uma vez.

Como essa filmadora 24 horas ainda não foi inventada, só nos resta fechar os olhos e tentar buscar o mais fielmente possível as recordações. Algumas são mais fortes, outras meio amareladas pelo desgaste. O interessante é que algumas vezes as cenas que mais nos marcaram dão a impressão de terem acontecido cronologicamente antes das mais recentes. Talvez isso aconteça pela nitidez em que elas ficam armazenadas em nossa mente.

Como todas as pessoas, acho que minha vida daria um filme. Uma pena ele não poder passar no cinema. Aposto que seria um sucesso de bilheteria!

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