PAULA PIMENTA

Oh, dúvida cruel!

Redação O Tempo


Publicado em 28 de março de 2015 | 03:15
 
 
 
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Sou geminiana. Dizem os astrólogos que uma das características mais fortes desse signo é a indecisão. Não sei se isso é realmente culpa da astrologia ou se é só coincidência, mas o fato é que eu sou a pessoa mais indecisa que conheço.

Fazer compras – uma atividade extremamente prazerosa para a maioria das mulheres – é um martírio para mim. Eu simplesmente não consigo escolher qual roupa fica melhor, qual cor combina mais, qual o tamanho certo. E, com isso, saio arrastando mãe ou amigas para cada mínima compra que eu faço. Se elas não podem ir, quem sofre é a vendedora. Tem que ficar dando opinião se fica melhor no meu pé a sandália marrom com plataforma ou a preta com saltinho. Claro que as vendedoras sempre sugerem a compra mais cara. E aí minha dúvida fica ainda maior, sem saber se ela está sendo sincera ou querendo lucrar em cima da minha indecisão. O pior é que eu acabo perdendo a paciência e comprando qualquer uma no “uni-duni-tê”. Ao chegar em casa, eu reexperimento, peço opiniões, fico horas na frente do espelho e, quando vejo, já estou no shopping de novo pra fazer a troca. E, invariavelmente, repito a saga “reexperimentar em casa – espelho – opinião alheia” com a mercadoria trocada e continuo sem a certeza de ter feito a escolha certa. É difícil.

Quando se trata de decisões realmente importantes é ainda pior, um verdadeiro caos. Lembro quando eu fiz vestibular: dúvida entre jornalismo, veterinária, letras, publicidade, medicina e música. Escolhi jornalismo. No meio, transferi pra publicidade. Me formei, larguei a profissão e resolvi fazer música. Hoje em dia tenho certeza absoluta de que deveria ter feito letras em vez disso tudo. Mas ainda me pego desejando ser uma veterinária. Ou mesmo médica, talvez. Se bem que acho que eu daria uma ótima fonoaudióloga... Cineasta também. Ou, quem sabe, eu devesse largar tudo, viajar pelo mundo e virar dona de uma pousada na Bahia... Maldita indecisão!

Claro que eu abuso do direito de ser indecisa. Tanta dúvida não pode ser normal. Mas, algumas vezes, eu encontro pessoas quase tão indecisas quanto eu e me pergunto o porquê dessa dificuldade de se fazer escolhas. Imediatamente me vem a resposta: o medo de se arrepender. Eu me pego, às vezes, pensando no que teria acontecido se em determinado ponto da minha vida eu tivesse priorizado uma alternativa diferente. Onde eu estaria agora? Porque, com certeza, com as nossas escolhas mudamos o rumo da nossa vida a cada minuto. Não há como deixar de pensar que o acaso estava me esperando em uma das opções que eu não fiz. Daí o medo de me arrepender.
Acho que esse meu medo é culpa do Silvio Santos. Quando eu era criança, adorava assistir a um quadro do programa “Domingo no Parque”, em que Silvio colocava uma criança dentro de um foguete à prova de som e tudo o que ela tinha que fazer era responder “sim” ou “não” quando uma luz vermelha acendesse na sua frente. E o Silvio começava, sem a criança ouvir: “Você quer trocar esse videogame novinho de última geração por uma bucha de cozinha usada?”. E a criança – crente que estava fazendo o melhor negócio da vida dela – respondia: “SIIIIIMMMM!!!!!”. Eu só faltava chorar.

No mínimo, tomei as dores dessas crianças e levei esse trauma para a minha vida. O medo de fazer uma escolha errada que me proporcionará uma “bucha velha”, no fim das contas, me faz continuar sofrendo na hora de dar cada passo. O problema é que, com isso, eu acabo imobilizando qualquer ação e deixando que a vida escolha por mim. Acho que eu deveria, em vez de ter ficado assistindo ao programa do foguete, ter brincado mais de tiro ao alvo. O risco de errar é grande, mas, quando o tiro é certeiro, o prêmio é garantido...

Tendo consciência disso, tenho começado a praticar. Claro que alguns tiros se perdem, mas a sensação de acertar o alvo certo, com minha própria mira, compensa. Melhor mesmo é parar de fazer suposições sobre o que poderia ter sido e aproveitar ao máximo o que realmente é.

Essa crônica termina aqui. Estou na dúvida se este foi o melhor final para ela ou aquele outro, que eu já apaguei... Acho que o melhor que faço é planejar bem a data do nascimento dos meus filhos! Geminiana, na família, basta eu.

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