Foi algo assim que aconteceu com minha amiga na semana passada. Ela, que é escritora, foi prestigiar o lançamento do novo livro de uma amiga nossa, que também é autora. Chegou cedo, mas estava com o filhinho de dois anos, que logo ficou impaciente. Ela então resolveu dar uma volta para distrair a criança, só que, quando voltou, a fila estava muito grande. Esperou um tempo, mas o menininho começou a ficar muito irrequieto, afinal, que garoto de dois anos de idade aguenta ficar parado em uma fila?
Foi então que alguém perguntou se ela gostaria de passar na frente, pois, pela lei, teria prioridade por estar com uma criança no colo. Apesar de ficar sem graça, minha amiga acabou aceitando, antes que o menino jogasse todos os livros das estantes no chão. Ela rapidamente deu um beijo na autora, tirou uma foto e pegou uma dedicatória no livro. Chegou em casa e registrou no Facebook como o lançamento tinha sido um sucesso e ainda mencionou as pessoas que tinha conhecido lá, agradecendo pelo carinho. Porém, logo surgiu um comentário de uma moça que não gostou nem um pouco de minha amiga ter usado seu direito à prioridade. Com palavras bastante ofensivas, a garota a encheu de críticas, tudo porque não achava certo o fato de estar na fila e alguém ter “furado”.
Muito educadamente, minha amiga respondeu ao comentário pedindo desculpas, explicando que só havia aceitado a oferta de passar na frente porque o filho realmente estava bagunçando a livraria, mas a menina novamente atacou. Disse que o direito era para crianças de colo, e não para crianças bagunceiras, e que, por ser mãe de uma assim, ela deveria ficar presa em casa até que o garoto crescesse, pois, pelo visto, nem pai ele tinha... Além dessas, escreveu outras barbaridades que fizeram com que algumas pessoas, que também estavam no lançamento, tomassem partido da minha amiga dizendo que ninguém havia se incomodado e que ela tinha o total direito de ter passado na frente. E ainda a aconselharam a deletar os comentários e a bloquear a tal garota.
Apesar de toda a defesa que recebeu, ela ficou chateada, pois realmente não queria causar nenhum mal-estar, muito pelo contrário. Mas o que muita gente disse – e eu concordo – é que essa pessoa resmungona só queria aparecer, causar tumulto na internet, pois lá na hora, pessoalmente, ela não abriu a boca para dizer uma palavra. Já que se sentiu tão ultrajada, poderia ter se manifestado no momento, e não depois, escondida atrás de uma tela! Realmente é muito fácil dizer o que pensa sem mostrar a cara.
Voltando ao aplicativo Secret, depois de muita confusão e processos, a Justiça determinou nessa semana que ele fosse retirado do ar, pois infringe princípios constitucionais, já que permite que seus usuários usufruam o direito à liberdade de expressão sob a condição de anonimato. A Constituição garante essa liberdade, mas, para alguém dizer o que pensa, deve também assumir os seus atos e responsabilizar-se por eles. Ou seja, o direito de alguém falar o que quer termina no direito de outra pessoa não se sentir prejudicada por aquilo. Portanto, quem tentar baixar o aplicativo agora não mais conseguirá.
Pena que em nossa vida não podemos simplesmente tirar do ar as pessoas que nos ofendem (ou que ofendem alguém de quem gostamos), que criticam sem assinar, que falam por trás e que só têm coragem de expressar a opinião sem olhar nos olhos. Mas podemos seguir o conselho das garotas que estavam na fila daquele lançamento e que tanto defenderam a minha amiga: “Delete e bloqueie”. Sim, isso nós podemos fazer. As pessoas podem ser más e chatas. Mas nós podemos escolher dar importância a elas ou não. Podemos apagar seus comentários da nossa lembrança e retirá-las da nossa existência. E o melhor é que nem precisamos esperar a Justiça determinar isso...