PAULA PIMENTA

Zero a zero

Redação O Tempo


Publicado em 25 de outubro de 2014 | 04:00
 
 
 
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Na semana que se passou, a campanha eleitoral monopolizou a conversa dos brasileiros. Esse assunto nos perseguiu por todos os lugares e, mesmo assim, foi com surpresa que, ao procurar umas anotações em um caderno antigo, me deparei com um texto que escrevi muitos anos atrás (provavelmente durante alguma aula). Parece que naquela época as eleições também estavam dominando meus pensamentos. Olha só:
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Vote em mim!

Durante o último mês, com a proximidade das eleições, comecei a pensar o que deveria propor um candidato para me convencer a votar nele. Cheguei à conclusão de que ele deveria ter uma meta parecida com a que eu teria, se fosse eu que estivesse concorrendo.

Venho aqui, então, expor o meu plano de governo. Caso algum candidato tenha ideias parecidas, me avise! Anotarei seu número e te darei todo o meu apoio.

Em primeiro lugar, gostaria de falar sobre a educação. Acho que o problema começa com o horário das aulas. Sete da manhã não é uma hora sadia para ninguém levantar, que dirá já estar dentro de uma sala de aula, de uniforme, tendo que aprender alguma matéria. É daí que começa a birra da criança pelos estudos. E com razão. Sair de uma cama quentinha no horário em que o sono é mais gostoso gera uma aversão aos estudos no inconsciente da pessoa. Ela passa a pensar que a escola “má” a está privando de coisas boas. Isso prejudica o desenvolvimento da imaginação e cria pessoas chatas, tristes, sem graça e conformadas com a rotina. Por isso, proponho uma lei que faça com que as escolas e faculdades só abram suas portas às 10h. A pessoa acordaria às 9h, tomaria tranquilamente o seu café da manhã, leria o jornal e iria para a aula, totalmente de bom humor. Nada mais saudável para o desenvolvimento da nação.

Outra lei que eu acionaria imediatamente seria o extermínio daquelas plaquinhas que proíbem a entrada de animais em certos estabelecimentos. Animais também são seres vivos! Quem decidiu que nós temos mais direito do que eles? Pois proponho que eles não só tenham entrada liberada como também sejam convidados de honra, numa feliz confraternização entre as espécies.
Minha terceira proposta diz respeito à carga horária de trabalho. Considero uma injustiça termos cinco dias de labuta contra dois de lazer. Essa proporção é desleal. Precisamos de pelo menos mais um dia de descanso, para conseguirmos render bem nos outros dias. Eu faria, então, uma lei que concedesse a cada pessoa um dia da semana (à escolha de cada um) para ficar completamente à toa. Nesse dia, o cidadão poderia ir ao shopping ver as vitrines, assistir à “Sessão da Tarde”, passear com os cachorros, ir ao cinema...

Uma medida que eu tomaria urgente seria a redução do preço das passagens aéreas internacionais. No atual contexto de globalização em que vivemos, precisamos estar em contato com o máximo de pessoas em qualquer parte do mundo. Por isso é extremamente necessário que as passagens tenham preços populares, para quando, por exemplo, eu estiver com saudade do meu primo que mora em Miami, eu possa ir até lá, passar um fim de semana com ele e voltar a tempo da minha aula (já reajustada) às 10h da manhã de segunda-feira.

Toquei agora em uma parte de suma importância no meu plano de governo. A segunda-feira seria abolida da semana. Ela continuaria existindo, mas seria chamada de “dia da ressaca”, serviria apenas para nos recuperarmos do fim de semana e darmos conta dos outros três dias (visto que um já é o dia de folga pessoal) de trabalho.

Aí estão as propostas que me comoveriam. Quem sabe, nas próximas eleições, algum candidato realmente goste dessas sugestões e as incorpore nas suas metas governamentais... Pensando bem, o melhor é não divulgar muito essas ideias e eu mesma me candidatar... Minhas metas priorizam a melhoria do humor das pessoas, e acho que, do jeito que a esperança e o astral da população andam pra baixo, eu até teria chances de ganhar.

Acho que o meu nome ficaria lindo na porta do gabinete presidencial...

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Apesar de o texto ser brincadeira, creio que esta é a eleição mais séria dos últimos tempos. O país se dividiu. Cada pessoa está defendendo com unhas e dentes seu candidato, sem dar a menor chance para os argumentos do outro lado. Eu só gostaria que lutássemos pelos nossos princípios e convicções todos os dias, e não apenas porque essa campanha eleitoral está com cara de final de Campeonato Brasileiro. É como se, em vez de Aécio e Dilma, o Brasil estivesse sendo disputado em uma partida no Mineirão: Atlético x Cruzeiro. Mas, se mesmo na Copa – quando perdemos de forma vergonhosa – conseguimos manter o bom humor, creio que podemos fazer o mesmo agora. Porque, pode acreditar, independentemente do resultado da eleição, ninguém vai ganhar de goleada desta vez. E ainda vai demorar muito para termos um país do qual possamos nos orgulhar.

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