Nestes tempos tão diferentes em que passamos a viver, até as celebrações históricas parecem fora do lugar, como se também o calendário tivesse que permanecer em quarentena. Mas talvez sejam nestes tempos de graves perigos que devamos olhar com mais cuidado e atenção para o nosso passado histórico, em busca de reencontrar o sentido da nossa vida.
Vivemos uma crise gravíssima, na saúde e na economia. Não há saídas fáceis, mas é possível, sim, superá-la. E o dia de hoje nos evoca de maneira eloquente a direção que devemos seguir. Não é a direção do autoritarismo. Ao contrário, é a direção da democracia, entendida em seu sentido mais substantivo e profundo.
Alguns amigos, que se dizem liberais convictos, amesquinham a liberdade ao circunscrevê-la à liberdade econômica. É pouco. É fundamental, mas é muito pouco. A liberdade plena abarca muitas outras dimensões e desemboca inexoravelmente na democracia. Com suas instituições, o Parlamento, o Judiciário, a imprensa livre e a convivência pacífica e civilizada das ideias diferentes. Com suas mediações e com a política. Sim, a boa e velha política.
Neste momento dramático, é essencial que reafirmemos nossos princípios e flexibilizemos nossas ideias. É tempo de abrirmos nossa inteligência em busca de ideias novas. Mas a liberdade e a democracia são valores absolutos. Principalmente para nós, mineiros.
A voz de Minas sempre foi a primeira e mais alta quando se tratou de lutar pela liberdade e pelas instituições que definem a democracia. Nunca nos recolhemos ao silêncio obsequioso nem nunca comerciamos a nossa voz em troca de favores e conveniências. Por isso, embora muitas vezes nos faltasse o poder da riqueza, nunca o Brasil fechou os ouvidos para as palavras de Minas.
Recordar de verdade os sacrifícios de nossos antigos heróis nestes dias de hoje é ter a coragem de falar tão alto como eles falaram no passado, afirmando nossa tradição de coragem, de amor à liberdade, de amor à cultura, de sabedoria e bom senso. É relembrar com respeito e veneração a grande galeria de mineiros que dignificaram a grande política desde o Império, passando por todas as nossas Repúblicas e culminado com Tancredo Neves. Todos eles amantes da liberdade, da paz e da alta cultura. Celebrar hoje o 21 de Abril é reafirmar e reverenciar esses valores e estar pronto para gritar ao país a voz eterna de Minas.