“Conversar com Lira é minha obrigação”, reconhece o presidente Lula, que aponta a necessidade do bom relacionamento entre os Poderes para que haja o diálogo que assegure a tramitação das matérias de interesse do país. Mas este, parece, não ser um diálogo apenas formal. Há uma clara demonstração de harmonia entre Lula e Lira, apesar das diferenças políticas que poderiam ser empecilho para o entendimento.
Lira, para surpresa de muitos, tem se mostrado um aliado confiável, que busca espaço para a tramitação com segurança das matérias e que tem, até aqui, conseguido ser um freio ao radicalismo de alguns que procuram dificultar as ações do governo. A composição partidária da Câmara dos Deputados poderia ser um obstáculo à governabilidade, se no comando do Legislativo estivesse um radical oportunista, como alguns acusam ser o presidente Lira.
Inicialmente arredio, Lula buscou para si a responsabilidade do entendimento, encontrando ampla receptividade do presidente da Câmara que tem sabido controlar o ímpeto dos radicais e levado o governo a conseguir vitórias impensadas em votações na Câmara. A chamada “esquerda”, que seria a base de sustentação do governo, tem uma minoria que representa a metade dos votos necessários para aprovar qualquer projeto de interesse do governo.
Com habilidade, a mesma que se reconhece em Lula, Lira costurou acordos e abriu espaço para os partidos que compõe o chamado “centrão”, grupo de deputados cuja ideologia vai do centro à direita, que forma a ampla maioria da Casa. Esta costura política acabou por colocar um freio no radicalismo de muitos, anulando qualquer tentativa ensaiada de gravar as ações do governo, impedindo a tramitação de reformas.
Lira tem demonstrado também capacidade e liderança política para conter o ímpeto de alguns governistas que imaginavam ser possível a convivência com o Legislativo sem o diálogo, impondo normas sem ouvir a sociedade, que na democracia é representada pelo Parlamento.
É nesta parceria que Lula aposta para levar adiante, ainda neste semestre os projetos da reforma que Lira ajudou a aprovar. O governo sabe que precisa acelerar o andamento destes projetos para aprovação ainda no primeiro semestre, já que em ano eleitoral pouco, quase nada, anda no Legislativo, com os deputados e senadores mais ocupados em fazer campanha em suas bases.