Uma pesquisa do Instituto Paraná, encomendada pela “Veja” e publicada no fim de semana, mostra o que, para a maioria dos que acompanham a política, parece improvável: o presidente Bolsonaro está mantendo, e até ampliou, seu prestígio. E, se a eleição fosse hoje, provavelmente estaria reeleito.

Nem mesmo o fato de ter sido contra as autoridades sanitárias e ter enfrentado tantos embates com o Legislativo e o Judiciário afetou sua posição. Claro que nos últimos dias mudou bastante sua postura, e a Covid-19 o fez ficar mais quieto dentro do Palácio da Alvorada. Continua achando que a Covid-19 é uma gripezinha, posição reforçada pelo resultado do último exame, no sábado, que deu negativo.

Isso pode reforçar sua popularidade entre os que atribuem a ele superpoderes. A questão é saber até quando ela conseguirá se manter no topo e qual o seu limite de crescimento. O renascer eleitoral do presidente tem explicações lógicas e materiais. Bolsonaro compensou, com folga, as perdas que teve na classe média na maioria dos Estados com um crescimento significativo no Nordeste, até então ainda fiéis ao PT. E cresceu pela mesma estratégia usada por Lula: alardear a concessão de auxílio financeiro às pessoas. Lula conseguiu se consolidar, quando começou a ser rejeitado, juntando os programas assistenciais existentes, alguns desde o governo Sarney e dando ao combo o nome de “Bolsa Família”.

Bolsonaro aproveitou a pandemia para distribuir, de forma indiscriminada os R$ 600 chamados de “auxílio emergencial”. O resultado eleitoral tem sido tão bom que ele já pensa em grife para os palanques: Renda Brasil. É o Bolsa Família que receberá uma “caiação” e terá um novo nome.

Essa é a principal explicação técnica e política para o crescimento de Bolsonaro que ainda mantém altos índices de rejeição e “surfa” em águas tranquilas, sem qualquer ameaça da oposição, que se mostra inteiramente desarticulada – em especial o PT – , embora o ex-ministro Sergio Moro ostente bons números, mesmo negando ser candidato, e o PSDB, apesar do desgaste de Serra e Alckmin (acusados de corrupção), tenha João Doria, um nome com boa avaliação nacional, e Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, onde deve se reeleger. Surge também o nome do senador Antonio Augusto Anastasia, hoje no PSD e que teve seu nome lançado à presidência por Gilberto Kassab, presidente do PSD.

Enquanto Bolsonaro está em plena campanha pela reeleição, dando mostras de que vai usar todos os métodos da velha política para isso – a forma de cooptação do centrão é uma mostra disso –, a oposição não consegue encontrar alguém que a lidere, afastando a sombra – ou seria mesmo uma assombração – de Lula, hoje o maior cabo eleitoral da direita bolsonarista.

Então, Bolsonaro tem reeleição assegurada? Claro que não. Tudo vai depender do comportamento da economia. O presidente sabe disso e, por isso mesmo, não vai se meter nas eleições municipais deste ano. Não pretende se expor às críticas pelo desemprego alto e pelo fraco desempenho da economia desde o início de seu mandato. Melhor ficar quieto e de boca mais fechada. Afinal, não podemos nos esquecer da enorme capacidade que ele tem de gerar crises quando resolve abrir a boca.