Paulo César de Oliveira

Eleições gerais em 2022

Pandemia é oportunidade para reflexão política responsável


Publicado em 24 de março de 2020 | 03:00
 
 
 
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Crise, dizem, quer dizer risco, oportunidade. E o Brasil passa por uma das maiores, se não a maior, crise da sua história. Um desastre sanitário que arrastou a economia e que nos levará a uma ainda não dimensionada crise social. As milhares de mortes e o confinamento compulsório de mais de 1 bilhão de pessoas mundo afora, não tenho dúvida, colocarão o mundo em reflexão.

Que mudanças isso provocará não se sabe. Certo é que nós, a humanidade, não seremos os mesmos após o coronavírus. Poderemos ser melhores, se realmente refletirmos; ou piores, se apenas nos deixarmos influenciar pelas redes sociais. É o risco. Poderemos construir uma nova sociedade universal a partir da compreensão de que hoje somos muito mais letais do que éramos em disputas passadas e que precisamos construir uma relação mundial com menos ódio, menos disputas ideológicas e menos desigualdades.

O mundo não será o mesmo. Mas e o nosso “mundinho” chamado Brasil? A crise do novo coronavírus tem, até aqui, exposto nossas mazelas e nossa incapacidade de lidar com os problemas que exigem uma liderança maior. Não temos líderes, capazes de despertar a consciência o popular.

As dificuldades que nos impusemos até aqui foram por medo da doença, não por chamamento de um líder, embora estejamos vendo surgir no cenário nacional a figura do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que se mostra equilibrado, capaz até de se segurar diante das bobagens ditas pelo presidente Bolsonaro. Chamo atenção de como o governador João Doria enfrenta a crise em SP. Temos, de tempos em tempos, o surgimento de líderes de pés de barro que não se sustentam. São destruídos num sistema político carcomido que mói os bem-intencionados para assegurar o poder aos simplesmente espertos.

O Brasil precisa de uma reforma política que assegure espaço para quem tem a vocação e as qualidade para o exercício da liderança. A impossibilidade de manutenção do calendário eleitoral deste ano pelo isolamento social exigido pela pandemia nos cria a oportunidade de começar essa reforma, transformando em gerais as eleições de 2022. Elegendo num único pleito e dar ao brasileiro a oportunidade de escolher vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidente da República. É preciso abrir com seriedade o debate em torno da prorrogação dos atuais mandatos municipais até 2022 e lá, então, realizarmos uma eleição geral. Defendo essa ideia por acreditar que uma disputa assim fortalece os partidos, evita desperdício de recursos, diminui a corrupção e permite o surgimento de líderes reais. Já é hora de mudarmos.

Se queremos mesmo mudar, precisamos colocar de lado nossas espertezas e encarar um debate sério. A prorrogação dos mandatos municipais – talvez com o impedimento de reeleição – tem consequências políticas e jurídicas de difícil superação. Há outros obstáculos a vencer que vão exigir capacidade de composição e de grandeza de espírito político. Infelizmente, não somos acostumados a isso. E é exatamente por isso que insisto na necessidade de iniciar logo uma discussão séria na sociedade, com visão de futuro e altruísmo. Se é que conseguimos isso. Com a situação atual, quem sabe conseguiremos.

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