Paulo César de Oliveira

Impunidade da Vale

Está na hora de agir, em vez de fazer de conta


Publicado em 10 de dezembro de 2019 | 03:25
 
 
 
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Não se pode negar a importância da mineradora nascida Companhia Vale do Rio Doce – hoje simplesmente Vale S/A – na história da economia mineira e, sem exageros, do mundo. Minério extraído das entranhas de Minas pela companhia abasteceu os aliados na Segunda Guerra e foi fundamental na recuperação do Japão, arrasado pelo conflito. Mas toda essa fantástica história da empresa, criada no governo Getúlio Vargas, na década de 40, vem sendo desconstruída pela ação de seus atuais comandantes, que, na ânsia do lucro, absolutamente natural no regime capitalista, a fizeram destruidora de vidas humanas e do meio ambiente.

Há quem considere o desastre, ou, se preferirem, a tragédia de Brumadinho, e também a de Mariana, uma obra do acaso, algo que resulta da própria atividade minerária, um risco ao qual estão sujeitas todas as companhias que atuam no setor. Em parte, sim. Mas o tempo vai passando – daqui a pouco mais de um mês, o rompimento da barragem que matou cerca de 300 pessoas em Brumadinho e atingiu o meio ambiente completa um ano –, e fica cada vez mais evidente a culpa dos gestores da Vale na tragédia.

A negligência no controle das operações transformou-se no descaso para com as vítimas dessa irresponsabilidade. Quem já perdeu seu passado, suas famílias, seus amores, seus bens não pode continuar sendo desprezado. É preciso que se dê às vítimas sobreviventes do desastre condições de refazer suas vidas. É preciso que sejam agilizadas providências para recompor vidas. Para recompor o meio ambiente. Para recompor a economia de toda uma região. É preciso, enfim, que se ponha fim ao faz de conta de que se estão tomando providências. É hora de mudar.

A Vale precisa entender que não faz qualquer favor ao adotar medidas que garantam, aos cidadãos das comunidades atingidas, condições de reiniciar suas vidas. É preciso também que se faça justiça, punindo responsáveis. A Vale não pode ser a única punida. Ela, aliás, não é responsável por nada. É, em última análise, vítima também. Responsáveis são os que a comandavam e comandam hoje.

Quando se cobra apuração e punição de culpados, não se quer vingança. Punir pessoas por atos de irresponsabilidade e negligência que, no caso de Brumadinho, se transformaram em homicídios é agir preventivamente, evitando novos atos de omissão. Apenas anunciar o que será feito não adianta. É preciso que se faça o que precisa ser feito. Com urgência, antes que novas tragédias aconteçam. Não é possível continuarmos pactuando com a ganância e o desprezo à sociedade. A impunidade é a mãe de todas as irresponsabilidades. A sociedade não pode mais admitir a ambição desenfreada de suas empresas (na realidade, de seus empresários e investidores) nem de suas autoridades. O caso da Vale não pode entrar para a nossa história como mais um exemplo de impunidade dos que têm poder e dinheiro. 

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