Mesmo com tudo o que lhe é imputado, o senador Renan Calheiros – que conseguiu escapar da varredura realizada pelas operações da Polícia Federal e do Ministério Público e ainda se reelegeu para mais um mandato –, por mais absurdo que possa parecer, continua forte como candidato a, mais uma vez – a quarta –, presidir o Senado Federal. Renan foi o responsável pela solução mágica encontrada, com a chancela do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo, de burlar a Constituição e evitar que Dilma Rousseff perdesse seus direitos políticos por oito anos, mesmo “impichada” pelo Congresso.
Esse gesto de solidariedade entre malfeitores criou na bancada petista no Senado uma dívida de gratidão com o senador alagoano. A bancada do MDB deve, em sua maioria, se manter ao lado de Renan, assim como outros partidos menores, que estão no Senado em defesa apenas de interesses pessoais de seus donos. Do povo só se lembram na hora da eleição.
O que se comenta é que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, não tem a menor simpatia por Renan, mas, mesmo assim, tem dito que não vai interferir no processo de eleição das Mesas da Câmara e do Senado. Não quer correr o risco de ser derrotado e criar desafetos. Renan, como “macaco velho” na política, está jogando com os novatos na Casa, que são muitos. Como conhece tudo dela, é um verdadeiro especialista nas malandragens políticas, o senador alagoano tem dito aos possíveis eleitores que pode ajudar na governabilidade, controlando o processo legislativo, fundamental para o futuro governo. Com isso, vai conquistando votos e colocando seu preço para o governo.
A senadora emedebista Simone Tebet também está na disputa. É uma política competente, sem os vícios e espertezas de Renan. Caso consiga vencer seu companheiro de partido, será a primeira mulher a presidir o Senado.
Também escolado politicamente, mas com um currículo bem mais limpo, o senador tucano Tasso Jereissati, do Ceará, é outro que está na disputa. Outras opções deverão surgir até fevereiro, quando haverá a votação. É esperar para ver se os senadores, antigos e novatos, votarão conscientemente, buscando renovação, como fizeram os eleitores em outubro.
A história de Renan Calheiros, por mais absurda que possa ser, não é, certamente, a única. Bem ao contrário, são comuns as escolhas de raposas espertas e suspeitas para o comando do Legislativo, no qual são feitas com base na melhor oferta e na fama de cumpridor de acordos do candidato. O discurso de todos os postulantes ao comando das Casas legislativas é o mesmo: altivez e independência em relação aos outros Poderes. Mas o que conta mesmo, o que conquista votos, são as promessas de nomeações, de liberação de privilégios e de enfrentamento do Executivo nos casos de interesse pessoal dos parlamentares. Como nas emendas orçamentárias, por exemplo. Compromisso com os interesses de seus pares é o que faz um presidente do Legislativo. O povo? Bem, este é um caso a ser pensado nas próximas eleições gerais. Nada diferente do que faz Renan.
Incrível, mas verdadeira
A candidatura do senador Renan Calheiros a presidente do Senado
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