Paulo César de Oliveira

O artista e pregador Fábio de Melo

É hora de começar a pensar sobre uma igreja mais aberta


Publicado em 24 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Por que os padres mais carismáticos, que procuram modernizar a forma de contato da Igreja Católica com os seus fiéis, sofrem pressão da cúpula, sendo desprezados e, internamente, criticados, numa situação que pode e já levou alguns a enfrentar doenças? Por que a Igreja Católica não muda seus rituais, tornando-os mais atraentes e participativos, levando alegria aos seus fiéis, muito deles buscando na religião, na palavra de Deus consubstanciada na Bíblia, coragem e motivação para enfrentar seus problemas, suas tristezas? Por que o padre, o celebrante de um ritual católico, não pode ser descontraído, alegre na sua comunicação. Apenas ler os enigmáticos textos bíblicos, incompreensíveis para muitos que não conseguem interpretá-los, não mais atende os anseios dos fiéis que querem participar, sentir a presença de Deus e ser alegres por isso. Essas dúvidas e reflexões, tomaram a mim, e a centenas, ou milhares, de pessoas que, há dez dias, assistiram, no antigo Chevrolet Hall – uma péssima casa de shows – a uma apresentação do padre Fábio de Melo, um dos ícones, juntamente com o padre Marcelo, de uma nova igreja que tenta surgir. Eu, como muitos dos que estavam no show, não conhecia o artista e pregador e, confesso, me emocionei com a sua capacidade de, num espetáculo como muitos outros, transmitir ensinamentos bíblicos, ensinar a força do pensamento positivo e do amor a alguém e ao próximo. Estranho que uma pessoa com tanta espiritualidade, como Fábio, assim como aconteceu com Marcelo, tenha enfrentado problemas sérios de saúde, resultado de pressões psicológicas por parte de quem, ao contrário, deveria estimulá-los, incentivá-los a levar adiante uma nova proposta de comunicação da igreja com o seu povo. Não sou marqueteiro nem tenho veleidades de “ensinar o pai-nosso a seu vigário”, como dizem no interior de Minas. Falo, e sei que faço isso com as bênçãos de muitos, pelo sentimento de que a Igreja precisa mudar, buscar cuidar mais da fé, sem esquecer, é óbvio, o trabalho social pregado por Cristo.

Essa mudança no relacionamento entre a igreja e fiéis, tem no papa Francisco, assim como teve em João XXIII, um defensor entusiasta. E já não é sem tempo. Se há questionamentos de alguns dogmas, uma discussão polêmica na cúpula católica, é hora de se abrir uma discussão em torno de uma igreja mais aberta, mais alegre, da qual os padres Marcelo e Fábio são apenas os nomes mais visíveis. Há muitos outros, Brasil afora, que precisam ser livres das amarras impostas pelos tradicionalistas para fazerem uma nova igreja mais alegre, mais próxima das pessoas, sem que isso represente distanciamento da palavra de Deus. Um exemplo dos que, menos conhecidos que os padres artistas, sofrem com a maldisfarçada perseguição dos “superiores da igreja”, é o padre Ivan, de Montes Claros. Padre Ivan, com sua pregação de fácil compreensão por todos e seu inquestionável poder de cura, atrai milhares às suas missas e nem por isso deixa de sofrer pressões dos que deveriam incentivá-lo a buscar os fiéis desgarrados, descrentes e, em sua maioria, necessitados de apoio espiritual.

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