PAULO CESAR DE OLIVEIRA

País passa pela pior crise de sua história

Redação O Tempo


Publicado em 20 de junho de 2017 | 03:00
 
 
 
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A coisa está ruim. Está tudo esquisito. Até vaca está estranhando bezerro. A frase, atribuída a muitos, inclusive ao escritor José de Alencar – não confundir com José Alencar, vice-presidente que passou todo o seu mandato reclamando dos juros –, ilustra bem a situação atual da política brasileira.

Uma autêntica bagunça, em que ninguém entende ninguém e ninguém confia em ninguém. Dizem que é, seguramente, a pior crise de nossa história. Deve ser mesmo. Crise política, crise econômica, mas, se vê também, crise de caráter.

Política nunca foi mesmo um território para santos. Isso no mundo inteiro. O problema é que, no Brasil, os atores pioraram muito. Misturamos num mesmo saco todos os tipos de sacanas, atraindo inescrupulosos de toda sorte da área empresarial, de todos os segmentos.

Escorregões morais não eram novidade em nossa vida pública. Sempre existiram e são igualmente imperdoáveis, mas o nível baixou muito. No meio da bandidagem, quando se quer dizer que algum de seus membros supera a média, diz-se que é capaz de vender a mãe. Pois pioramos. Juntamos aos que já eram capazes de vender a mãe os que são capazes de vender e entregar a própria mãe.

A impunidade levou à perversão. É impossível hoje saber quais são os limites para participar desse jogo. Corruptos e corruptores não sabem mais onde parar. E, infelizmente, ou se adere à falta de regras, ou se é excluído do jogo. Algumas empresas se envolveram de tal forma no esquema institucionalizado da corrupção que continuar nele foi a única forma de sobrevivência. Isso não isenta ninguém de culpa, mas é um fato real e um dificultador do processo de assepsia da vida política e empresarial.

Em defesa da verdade, é preciso alargar esse universo deteriorado. Que não se culpem apenas os políticos com ou sem mandatos. Há toda uma estrutura de governo, em todos os Poderes, apodrecida e corrompida, deitada em privilégios inaceitáveis e que é capaz de atravancar qualquer tentativa de mudanças. E, convenhamos, esta também não é uma forma de corrupção?

Para completar, temos uma sociedade que ou se omite, ou se locupleta também. Sair dessa situação, reverter o quadro para nos transformarmos num país dentro dos níveis normais de corrupção e canalhice, é tarefa que se coloca como o 13º trabalho de Hércules. Remover todo o entulho acumulado durante tantos anos – com parcela grande de culpa de cada um de nós – é certamente uma tarefa que demanda tempo.

É pneu a ser trocado com o carro em movimento, e, pior, os mais de 14 milhões de desempregados e outros tantos milhões de subempregados estão a exigir que se imprima velocidade ao carro. É hora de um quase apelo a todos, aos políticos em especial, para que pensem um pouco no bem comum. Que deixem de lado por algum tempo a obsessão pelo poder. É difícil conseguir isso deles? É, mas se desanimarmos será pior. Aí, a vaca mata o bezerro.

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