Começam a ficar visíveis, embora os convertidos se recusem a aceitar, os sinais de que o prestígio político, e principalmente o eleitoral, do presidente Bolsonaro vai perdendo força e se transformando numa rejeição cada dia mais evidente. É tanta bobagem que o presidente diz, que seus eleitores mais esclarecidos e politizados estão deixando de defendê-lo.
Não são apenas as bobagens, ditas muitas vezes com palavras chulas, numa tentativa de se mostrar popular, que estão desgastando o prestígio do presidente. O seu negacionismo em relação à pandemia do coronavírus, contrariando a ciência e a medicina, sua postura favorável e até de incentivo às aglomerações e ao não uso de máscaras, além da revelação de sua postura de negar recursos e autorização para a compra de vacinas para imunizar o brasileiro, estão esgarçando a sua liderança política.
O episódio envolvendo o ex-ministro da Saúde general Pazuello (ele mesmo um escárnio com o povo brasileiro) de aparecer em ato político no Rio e dizer depois, em sua defesa em sindicância aberta pelo Exército, que não sabia do que se tratava, ou que era apenas um desfile de motos, cheira a deboche com o povo brasileiro. Um deboche que Bolsonaro agora faz com os comandantes das Forças Armadas, ao se posicionar contrário a qualquer punição ao seu ex-ministro. Bolsonaro passa a sensação de, no poder, buscar se vingar da instituição de onde foi discretamente alijado, após atos de indisciplina.
Manter impune o general bajoujo, que claramente infringiu regras disciplinares, participando de atos políticos, é uma forma de reafirmar autoridade, bem à semelhança de Hugo Chávez. Está claro que há insatisfação entre os membros do Alto Comando do Exército com essa quebra de autoridade. O posicionamento do vice-presidente, general Hamilton Mourão, cobrando punição ao general indisciplinado, tenham certeza, não é uma voz ao vento, uma opinião pessoal. Ela reflete o entendimento de uma parcela não alinhada com as bravatas do presidente, que é alguém que pode se contrapor ao presidente, sem riscos de punições.
Usando o estilo de Bolsonaro, o vice é “impunível”, e suas falas, como representante do pensamento de um grupo, de que não se conhece o tamanho, podem provocar reações imprevisíveis.
Para complicar o quadro, que, não há como negar, é de crise político-militar, a situação da pandemia no Brasil – e também no mundo – continua preocupante. Há um enorme quadro de incertezas em todo o mundo, e, com certeza, a economia continuará problemática. Não é diferente a nossa situação. Os últimos números de nossa economia, festejados pelo governo, não representam o todo dos diversos setores. São resultados que representam mais a recuperação no exterior do que propriamente de nossa economia.
Há uma angustiante crise social a resolver. Os grandes grupos econômicos vão ter que dar mãos aos governos para que atenuem os problemas com os menos favorecidos. E nesta hora tínhamos que ter um líder. Alguém com capacidade de agregar. E o que estamos assistindo é exatamente o contrário. Bolsonaro só está conseguindo manter o apoio de seus iguais. Ruim para ele, pior para o Brasil.