PAULO CESAR DE OLIVEIRA

Reforma das instituições

A desmoralização do Estado brasileiro por ação ou omissão


Publicado em 13 de março de 2018 | 03:00
 
 
 
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Tem razão o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, quando adverte para a necessidade de reformas de nossas instituições. Sua análise é, porém, incompleta, pois, em sua visão, há uma hipertrofia em algumas instituições pelo excesso de poder e autonomia financeira e administrativa concedidos a elas, propiciando, não raramente, a prática de abuso de poder, até mesmo diante de outras instituições.

Fossem apenas esses os problemas de nossas instituições, até que não seria muito difícil corrigi-los. A questão, no entanto, parece-me estar na competência e seriedade de seus gestores e membros. A ação ou omissão dos que têm a obrigação de gerir o país, sejam eles políticos ou servidores profissionais, levaram à total desmoralização do Estado brasileiro.

A consequência disso? O surgimento de um Estado paralelo, comandado com mão de ferro pelo crime organizado, que aterroriza e faz reféns de cidades inteiras, mas, em especial, a população mais pobre. Ele faz ameaças veladas ao Estado, como a que enfrenta agora o ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, que tem seus passos seguidos.

Além das ações do crime organizado, há as do crime em outro nível, o do colarinho-branco, que não usa a força física, mas a capacidade de corromper as instituições. Corrupção que, registre-se, é arma também da marginalidade.

São problemas que se agravam com o silêncio cúmplice da população, que a tudo assiste de forma pacífica, ou amedrontada, e, para justificar-se, iguala a todos, sob o argumento pobre de que bandidos e governantes são a mesma coisa. Pode ser.

Esquecem-se, porém, de que criminosos somos todos nós que agimos como cúmplices silenciosos, vendo nossos direitos serem desrespeitados por todos os tipos de malandros que infestam o país. Essa cumplicidade ainda vai custar muito mais caro ao país e, quando quisermos reagir, já não teremos como.

“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar”.

Esse trecho do pastor luterano Martim Nielmöller, em 1933, na Alemanha nazista, retrata o que somos hoje e o que seremos amanhã. Se não nos mobilizarmos – sem necessidade de violência, que é a arma dos que não têm argumento –, veremos, cada vez mais, a usurpação de nossos direitos, o calar de nossas vozes, o confinamento pelo medo de nos expormos e a defesa cada dia mais frágil, dada a ousadia dos que sabem ser imunes à ação da lei e de um Estado cada dia mais fraco, moralmente. E o pior, mais fraco por nossa culpa.

Desculpem-me se penso assim.

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