Paulo César de Oliveira

Triste realidade

Radicalismo e o caminho para o desenvolvimento do país


Publicado em 13 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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“Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem. Pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada....”. “No Caminho, com Maiakovski”, um poema que assanhou a resistência ao regime militar, deve ser relembrado agora, quando o país, mesmo no rumo desejado e imprescindível das mudanças, mostra saber que precisa fazer, embora não saiba ainda bem o quê.

No vácuo da inexistência de um plano de Brasil, vamos tateando, buscando saídas para uma crise que não é de fácil solução. É verdade que, se o Executivo está ainda perdido, sem convicções quanto à melhor forma de agir, não tem tido no Legislativo o respaldo necessário pela inexperiência de muitos de seus membros – e a observação aqui serve também para os Legislativos estaduais –, mas, em grande parcela, pela ruindade do quadro político atual.

Elegemos despreparados e transformamos nossos Legislativos em filiais de grêmios estudantis, onde há mais barulho que ações. E diante disso, o presidente – é o que parece – tem se valido da estratégia da radicalização, criando seguidores, não apoiadores de um projeto de governo. Riscos? Sim, há muitos, pois provoca a radicalização contrária. Coisa pouco cristã num país que precisa de paz social para retomar os trilhos do crescimento. Mas o radicalismo, o fanatismo, costuma dar certo na sustentação do governo pela força e não raramente violência de seus seguidores, muito embora seja um desastre em termos de desenvolvimento.

Uma olhadinha “para cima do mapa”, e veremos a Venezuela. Lá, pessoas passam fome, vivem com inflação altíssima, mas não se muda o governo. Maduro está blindado pelo fanatismo de seguidores. Um conforto para ele, um desastre para um país que, antes do chavismo, do populismo exacerbado e da violência verbal e física contra seus inimigos, viveu uma democracia e uma economia forte. Os caminhos tortos na política, com a conivência e entusiasmo popular, acabaram com tudo, inclusive com a autoestima do povo.

Não é esse, ainda, nosso caminho. Mas nem por isso podemos nos acomodar. Ninguém nega a importância das reformas que estão sendo propostas pela equipe econômica de Bolsonaro. Precisamos corrigir nossas distorções, resultantes, é bom ressaltar, de antigos conceitos políticos, nem sempre de má-fé.

O Estado paternalista acabou, faliu, e nós insistimos muito nele. Agora queremos tomar, de forma abrupta, outro caminho, o da liberdade total, quase sem Estado, que, pelo visto, permaneceria forte apenas na sua função de punir inimigos e ajudar amigos. É o que se tem visto até aqui. Precisamos reformar, sim, acabar com privilégios, findar a corrupção, engajar a população e... bem, fazer outro país com uma sociedade mais participante. Mas só faremos isso sem radicalismos, com respeito às diferenças. Mas é possível começar a fazer certo e, quem sabe, se formos bem, até terminarmos num segundo mandato. Democrático, tá?

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