Somos um povo que considera o voto uma obrigação, e não um direito de exercer a cidadania, de escolher seus representantes e os que vão gerir o país. Fazemos escolhas que beiram a irresponsabilidade, impomos aos que têm um pouco mais de consciência política nomes que podem ser muito bons em suas áreas de atuação profissional, mas buscam um cargo político para obter vantagens pessoais. São maus políticos, são maus brasileiros. A eles entregamos o país sem qualquer preocupação de acompanhar o trabalho que desenvolvem.

Somos muito mais exigentes com os jogadores de nossos times, com os garis que cuidam de nossas ruas, com os estressados motoristas de coletivo do que com os políticos que elegemos. Não os vigiamos nem sabemos o que fazem, o que tramam. Se assim não fosse, não haveria tanta esperteza, tanto assalto aos cofres públicos. Não haveria escândalos como o que está sendo gestado no Congresso sob a pomposa capa de reorganização partidária e eleitoral.

Já aprovada na Câmara e em análise no Senado, a tal lei cria uma gama enorme de vantagens pessoais aos parlamentares e aos partidos. Trapaças de fazer corar frade de pedra. É tal o abuso de vantagens que estão criando que recursos públicos serão transformados em dinheiro privado. Recurso para pagar, por exemplo, advogado de políticos condenados por corrupção. Ou para pagar passagens para qualquer lugar de quem nem filiado à legenda precisa ser. Dinheiro dos impostos que pagamos e que são transferidos para o Fundo Partidário, tirado das áreas de saúde e educação.

São tantas as trapaças para subtrair o dinheiro público que os bilhões que se propõe liberar para o fundão eleitoral passam a ser até algo justificável. E não pensem que entre os trapaceiros políticos estão apenas nomes do baixo clero. Não, entre os que votaram a favor da lei do fim do mundo, estão nomes conhecidos, como o do paulista Baleia Rossi, que ganhou notoriedade por ser o autor da melhor proposta de reforma tributária em tramitação no Senado; do velho e já conhecido Mauro Lopes, de Minas; de Jandira Feghali, do outrora sério PCdoB; além, é claro, dos muitos que chegaram agora com o discurso de uma nova política – velho discurso que engana o eleitor e sustenta velhas práticas.

E nós aqui, que pelo voto assinamos a carteira de trabalho deles, nada fazemos. Colocamos as raposas no galinheiro e depois nem nos damos conta do que fazem. Apenas vamos para as esquinas, as mesas de botecos, bradar contra a corrupção que assola o país. Este é o esporte favorito do brasileiro: falar mal dos políticos. E falamos, falamos até na boca da urna, quando nos tornamos cordeiros e lhes entregamos um novo mandato. Para que eles, livres, façam tudo novamente.

A propósito, o seu deputados, aquele que você elegeu, votou como nessa trapaça em andamento?