Passadas as eleições de 2018, é notório que o clima político amainou um tanto. Porém, nas redes sociais, lar por excelência do extremismo, continua a batalha incessante entre simpatizantes da esquerda lulista e da direita bolsonarista. Ganhar votos ou mesmo a simpatia de outros internautas é hoje objetivo muito pouco importante, já que as eleições se foram: o que importa mesmo é desfiar mais uma vez a velha sequência de dados e argumentos, como que para reforçar a crença de cada um nesses.

Como se trata de um jogo de cartas marcadas, esse debate não fere mais seus participantes, apenas passantes incautos que, estando no lugar e na hora errados, acabam alvejados pelo tiroteio – como é o caso da presente coluna, que costuma ser acusada de defender algum dos lados dessa rivalidade frenética.

Não é apenas a sanha por polêmica dos radicais e dos neófitos na política, que tem vitimado a convivência e a troca de ideias no campo da política. Existe uma antiga e persistente confusão entre análise e defesa da preferência pessoal, que ainda hoje leva parte do público a pensar que a função de quem escreve é apenas a de divulgar aquilo que gosta; salvo exceções, geralmente evidentes e aberrantes, não é.

Um dos primeiros e mais brilhantes sociólogos modernos, Max Weber, contribuiu muito para esclarecer essa questão, ao discutir o papel do cientista diante dos problemas sociais e das possíveis soluções desses. Para Weber, é preciso distinguir tarefas antes de pessoas ou instituições: a tarefa da análise, científica por si, busca descobrir, estudar e explorar as consequências das opções de ação disponíveis; já a seara da opinião trata da escolha de uma dessas opções, a partir das preferências pessoais em relação aos resultados e efeitos colaterais esperados.

A figura do analista e do político, portanto, não se confundem: o primeiro explora o ambiente, encontra as opções e as coloca na mesa, enquanto ao político cabe fazer a escolha, de acordo com os gostos e valores seus e de seus eleitores.

Confundir a análise com o processo de escolha significa, na verdade, a tentativa de camuflar preferências políticas, divulgando-as como se fossem a única opção disponível – e, portanto, escolhas inevitáveis. Nesses casos, o analista se torna nada além de um propagandista a serviço do poder, cujo único diferencial é o verniz científico que aplica em sua narrativa.

Analisar a política e a gestão pública, como esta coluna faz semanalmente há cerca de cinco anos, implica comentar as opções disponíveis aos detentores do poder em Minas e no Brasil – assim como as decorrências esperadas das escolhas que esses acabam por fazer. Se o horizonte adiante é sombrio ou se os poderosos nos levam pela trilha mais arriscada, a este autor só resta comentar os perigos que estão por vir.

Mesmo com os rancores da política partidária no mundo virtual, a presente coluna seguirá colocando as cartas na mesa: as opções disponíveis e as escolhas feitas por nossos líderes. Cada coisa em seu lugar.