PAULO DINIZ

Bolsozema

A aproximação do presidente Jair Bolsonaro em relação ao senador Carlos Viana, candidato de seu partido do governo de Minas Gerais, vem percorrendo um caminho longo e tortuoso

Por Paulo Diniz
Publicado em 09 de agosto de 2022 | 05:00
 
 
 
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A aproximação do presidente Jair Bolsonaro em relação ao senador Carlos Viana, candidato de seu partido do governo de Minas Gerais, vem percorrendo um caminho longo e tortuoso. Bolsonaro já elogiou publicamente Romeu Zema em eventos recentes, o que foi creditado como uma desfeita a seu correligionário por setores da imprensa.

Cortejado pelo presidente, Zema já afirmou mais de uma vez que seu partido tem candidato próprio ao Planalto e que seu apoio político caberá a esse. Bolsonaro, ao que parece, não lidou bem com a rejeição, pois planejava contar com o eleitorado de Zema a seu favor na corrida presidencial.

Indo além dos números frios, a última edição dessa coluna mostrou o quanto as intenções de voto declaradas para Zema podem ser voláteis. Nesse sentido, é questionável a hipótese de que Zema pudesse transferir eleitores para o presidente – afinal, o próprio Zema não conta com tais apoios para si próprio.

Outro ponto relevante: a parceria entre Lula e Alexandre Kalil tem potencial para contaminar a eleição mineira com a polarização que marca a disputa nacional. Assim, ao alinhar-se claramente com Bolsonaro, Zema arrisca trazer para si uma parte da rejeição que muitos associam ao atual presidente – cenário que certamente causa pesadelos ao governador, preocupado que é em cultivar sua imagem de bom moço nas redes sociais.

Uma aliança explícita com Bolsonaro faria com que Zema perdesse o apoio do contingente de eleitores que, hoje, têm manifestado preferência por Lula e pelo próprio Zema – de forma concomitante.

O chamado “voto Luzema”, que pode ser fruto da maior exposição de ambos os candidatos, é algo que pode vir a perder consistência à medida que a campanha eleitoral comece a tomar forma. Porém, já foi abordado de forma positiva por Zema, o que indica sua intenção de não abrir mão espontaneamente dessa fatia do eleitorado.

Também é importante considerar que Zema já concentra junto a si – mesmo que provisoriamente – os diferentes grupos de eleitores que se identificam ideologicamente com a direita. Assim, o governador não teria virtualmente nada a ganhar com uma eventual bênção política concedida por Bolsonaro.

Dessa forma, Zema não apenas tem pouco a contribuir com Bolsonaro, como também não tem o que lucrar a partir dessa hipotética aliança.
Para o presidente, uma chapa estadual mais ortodoxa, com Carlos Viana candidato ao governo do Estado e Cleitinho Azevedo disputando vaga no Senado, é aquela que apresenta possibilidades reais de reforço das bases bolsonaristas em Minas Gerais.

A credibilidade que esses acumularam em suas recentes carreiras parlamentares pode, inclusive, viabilizar o retorno de alguns eleitores centristas para o campo de Bolsonaro.

Em um período eleitoral atipicamente marcado por disputas de bastidores ferozes, a percepção que se tem do “mundo real” torna-se cada vez mais distorcida. A vitória, em 2022, parece mais viável para os candidatos que tiverem mais ouvidos para os eleitores do que para os seus próprios assessores.

 

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