PAULO DINIZ

Copa do Mundo e eleições: momentos de aprendizado?

Situações extremas, no limite, podem ser bastante educativas


Publicado em 10 de julho de 2018 | 03:00
 
 
 
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Mais uma Copa do Mundo se encaminha para o final, e, como em várias outras, o brasileiro não deixou de transformar o evento esportivo em motivação para realizar pequenos carnavais por todo o país. Comércio e escolas com atividades suspensas, em pleno horário comercial, ruas decoradas em verde e amarelo, repartições públicas em ponto facultativo; batucada, churrasco e cerveja. Quem viu tanta festa quase poderia esquecer que, apenas um mês atrás, quase ninguém demonstrava entusiasmo em relação à Copa do Mundo – só mesmo os admiradores mais fiéis do esporte bretão, que aguardavam as muitas partidas de alto nível técnico que estavam por vir.

A evolução do desempenho da seleção brasileira, lentamente, reacendeu o gosto pela torcida nos corações nacionais, levando às ruas multidões como em Copas passadas. Não se concretizou, portanto, o sombrio prognóstico de que o futebol teria deixado de ocupar um lugar central no imaginário popular: com a bola rolando nos gramados russos, tudo voltou a ser como no passado, muito antes da desastrosa goleada sofrida diante da Alemanha em 2014.

Inevitável não questionar, pela coincidência temporal entre os calendários, se o eleitor brasileiro também não passou por transformações profundas nos últimos quatro anos. Afinal, assim como no futebol, os acontecimentos a partir de 2014 podem ser descritos tranquilamente como traumáticos para a política nacional. A eleição de Dilma Rousseff, por uma margem ínfima em 2014, foi o preâmbulo da impopularidade quase absoluta com a qual essa governante contaria apenas poucos meses depois; deposta pelo Congresso Nacional, Dilma foi substituída por seu vice, detestado por virtualmente todos os brasileiros. Das imensas manifestações populares pelo afastamento de Dilma, assim como do desempenho fraco do governo que a sucedeu, derivou algum aprendizado para o eleitorado nacional? Terão os brasileiros mais cuidado ao votar em 2018, ou mais apego a quem elegerem em outubro próximo?

No mesmo sentido, a crise econômica da qual o Brasil ameaça se recuperar representa outra oportunidade de reflexão por parte dos brasileiros. Considerando que todos os ingredientes da crise já estavam presentes ao longo da campanha de 2014 – porém os principais candidatos preferiram manter o falso discurso otimista diante do eleitor – será que os brasileiros terão neste ano mais atenção ao discurso econômico dos presidenciáveis? É fato que muitos temas técnicos escapam à compreensão da maioria das pessoas, mas após a pior crise das últimas décadas afetar profundamente a vida de cada brasileiro, é de se esperar que cada um já saiba bem onde o sapato lhe aperta. Em tese, o aprendizado pela prática poderia tornar o eleitor brasileiro um economista intuitivo, prestes a exigir posturas claras dos candidatos ao Planalto em questões relacionadas às condições gerais de produção e emprego.

Situações extremas, no limite, podem ser bastante educativas. Porém, também podem ser apenas traumatizantes. No último quadriênio, o Brasil passou por eventos com potencial para provocar discussões profundas sobre os mais básicos valores e comportamentos do caráter nacional. Entretanto, só saberemos se tudo isso gerou aprendizado coletivo após a apuração dos resultados das urnas; sobretudo, em relação às eleições para o Legislativo. Vale torcer, entretanto, que em outubro não contabilizemos apenas mais uma derrota, como na história das Copas.

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