Para ganhar eleições, um candidato precisa conseguir votos por conta própria e, de preferência, deve contar também com aliados que façam isso por ele. Essas duas dinâmicas envolvem habilidades, compromissos e contextos bastante distintos. Para conquistar votos por conta própria, um candidato precisa seduzir o eleitor, tendo como base características pessoais: desde a simpatia, desenvoltura em apresentar ideias complexas ou até mesmo a capacidade para despertar o otimismo em relação ao futuro.

Já quando conta com a ajuda de quem o promova, esse candidato passa a depender da relação que seus apoiadores conseguem criar com as pessoas de sua convivência. Seja um político já estabelecido, lideranças comunitárias ou mesmo pessoas comuns em seus círculos de convívio diário, quem faz campanha por outrem não está apenas divulgando um nome, mas sim colocando em jogo a própria confiança que conseguiu conquistar junto às pessoas de seu entorno imediato.

Engana-se, portanto, quem simplifica essa relação entre um candidato, seus apoiadores e o eleitorado: quem pede votos pede mesmo para si, transferindo para o candidato apoiado o resultado que deriva dessa relação de confiança entre o apoiador e os eleitores com os quais se relaciona. Afinal, dificilmente a decepção posterior poderá ser encaminhada diretamente para o eleito, sendo mais comum o débito na conta do prestígio de quem pediu o voto para o governante que frustra seu eleitorado.

Essa questão pode parecer pequena, mas, no contexto atual, pode vir a ser a mais importante da campanha presidencial de 2022 – mais especificamente, para a reeleição de Jair Bolsonaro.

Em 2018, Bolsonaro surpreendeu a todos com o crescimento de sua aceitação nos momentos finais da campanha, e uma boa parte da explicação desse fenômeno se deve às relações pessoais: familiares, amigos, vizinhos discutiram intensamente, em seus círculos de convívio, os prós e contras de se eleger um candidato tão “fora do padrão” como Bolsonaro. Razoavelmente, não se pode supor que Bolsonaro passou a inspirar confiança em milhões de brasileiros tão rapidamente, como em um passe de mágica, apenas por efeito de um punhado de boatos toscos divulgados em redes sociais.

Faz mais sentido supor que a confiança já existente entre amigos, familiares e colegas de trabalho é que foi, progressivamente, transferida a Bolsonaro em um efeito avalanche que se espalhou pelo país com a velocidade das redes sociais. Afinal, se confio em quem me indica um candidato, então confio também no candidato indicado – e passo o conselho adiante, para os demais que em mim confiam.

Tendo em vista todas as pequenas tragédias que se reproduzem no cotidiano das famílias brasileiras, da pandemia aos desdobramentos da crise econômica preexistente, quem se disporia a empregar seu prestígio pessoal em nome da reeleição de Jair Bolsonaro? Ideologias à parte, haveria argumentos ou confiança capazes de superar os impactos negativos que todos sentimos hoje na pele? A resposta mais óbvia é: não.