PAULO DINIZ

Estados Unidos: um país efetivamente sem presidente

Redação O Tempo


Publicado em 22 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
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Mais do que provavelmente tenha desejado, Donald Trump tem estado em evidência de forma praticamente onipresente nas últimas semanas. Como era de se esperar em uma situação desse tipo, as falhas e defeitos do presidente dos EUA saltaram aos olhos do mundo. O impasse em relação
às armas nucleares da Coreia do Norte, que durante mais de duas décadas não foi além do componente folclórico e inusitado da política mundial, escalou a um patamar realmente perigoso nas últimas semanas. As tradicionais ameaças megalomaníacas e paranoicas dos norte-coreanos foram confrontadas, pela primeira vez, por bravatas igualmente disparatadas: Trump ameaçou seus oponentes com “fogo e fúria nunca antes vistos”, incentivando ainda mais a perigosa arenga entre as duas potências nucleares.

Indiferente ao risco que estimulava, Trump também acenou com a possibilidade de ação militar contra
a Venezuela, país à beira da guerra civil, cujo governo já se encontrava sob intensa pressão popular e internacional. Evocando o fantasma favorito da esquerda hispano-americana, a intervenção ianque no continente, Trump conseguiu a façanha de produzir alguma popularidade para o governo de Nicolás Maduro, subitamente incumbido da defesa da soberania nacional venezuelana.

Na semana, Donald Trump ainda manteve-se neutro em relação aos distúrbios com morte ocorridos na pequena cidade de Charlottesville, no Estado da Virgínia, envolvendo grupos racistas e defensores dos direitos civis. Culpando todos os envolvidos no caso, Trump causou escândalo ao redor do
mundo por declarar, com isso, apoio tácito aos movimentos pela supremacia branca do sul dos EUA, muitos dos quais defendem plataformas oficialmente nazistas. Dois dias depois, Trump retratou-se
e condenou os grupos racistas, apenas para, no dia seguinte, voltar à posição inicial de condenar igualmente a todos os envolvidos.

O fato de todas essas polêmicas relacionarem-se com as declarações de Trump nas redes sociais é sintomático: seu governo não tem conseguido avançar em suas propostas principais, sofrendo
sucessivas derrotas no Legislativo e no Judiciário. Mesmo que o partido do governo tenha maioria tanto na Câmara quanto no Senado, muitos parlamentares republicanos têm feito oposição a algumas políticas de Trump, certamente temerosos de que estas prejudiquem diretamente seus eleitores. Não é por acaso, portanto, que o primeiro deputado a mencionar abertamente o impeachment de Donald
Trump foi um membro de seu próprio partido, eleito pela Flórida.

O grau de inação de Donald Trump em relação à administração do país é tão flagrante que se vê com frequência analistas políticos norte-americanos dedicando-se a observar a filha e o genro do presidente, ambos nomeados como assessores especiais do governo, na esperança de que desse casal possam surgir liderança e iniciativas que influenciem Trump. Afinal, o comportamento errático e improdutivo do presidente já foi percebido por muitos como uma efetiva lacuna no cargo político de
maior destaque dos EUA.

Pressionado cada vez mais por suas ligações com o governo russo, é provável mesmo que Donald Trump renuncie ao posto para o qual foi eleito: afinal, já declarou ter saudades de seu ritmo de vida anterior à Presidência, que, segundo ele, era bem menos atarefado. Sob esse cenário, Trump apenas
tornaria oficial algo que já é real: os EUA não têm hoje, efetivamente, um presidente em exercício.

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