PAULO DINIZ

Governo de Jair Bolsonaro: um ministério não apenas simbólico

A vontade de acertar já é um grande alívio a todos


Publicado em 06 de novembro de 2018 | 04:00
 
 
 
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A eleição de Jair Bolsonaro causou uma onda de pânico naqueles que não queriam sua vitória. Essa mesma reação certamente seria vista entre os bolsonaristas caso o candidato petista saísse vencedor. Trata-se de consequência da forma como ambos os candidatos a presidente conduziram suas campanhas: infundindo no eleitorado a ideia de que a eleição do rival equivaleria ao apocalipse. O resultado eleitoral, portanto, não apenas deixou o país dividido, mas também o povo à beira de um ataque de nervos.

Enquanto isso, Bolsonaro vai anunciando os ministros que comporão seu gabinete e, assim, sinaliza suas concepções de como deve ser um governo. Até agora parece não haver grandes motivos para apreensão. Bolsonaro tem buscado para seu ministério figuras de grande impacto simbólico, como forma de indicar à população seu desejo de produzir bons resultados no governo. Ao mesmo tempo, os símbolos selecionados por Bolsonaro têm mais do que apenas capacidade para inspirar confiança, pois apresentam experiência considerável em suas áreas de atuação.

O destaque cabe, até agora, ao juiz federal Sergio Moro, figura já certa para chefiar o Ministério da Justiça. A maior contribuição que Moro pode dar vem de seu profundo conhecimento dos meandros técnicos da corrupção brasileira, adquirido não apenas pela leitura de dezenas de milhares de páginas de documentos da Lava Jato, como também de um processo de imersão semelhante no caso do mensalão petista, quanto atuou como juiz-assistente. Dessa forma, direcionar o Ministério da Justiça para o combate à corrupção e deixá-lo sob o comando de Moro parece, ao menos por enquanto, uma decisão equilibrada.

O mesmo pode ser dito da escolha de Marcos Pontes para a pasta da Ciência e Tecnologia. Para além da associação óbvia entre as imagens da tecnologia e de um astronauta, vale mencionar que Pontes passou por uma década de treinamento intensivo junto à agência espacial dos Estados Unidos, a famosa Nasa, como preparação para a missão espacial da qual participaria junto aos ianques. Abortada pelos cortes de gastos do governo Obama, a missão de Pontes junto à Nasa acabou se tornando um dos mais longos cursos de tecnologia aeroespacial de que se tem notícia – muito útil para a gestão do ministério que Bolsonaro lhe destinou.

A escolha do general Augusto Heleno para a pasta da Defesa também indica a opção de Bolsonaro pela técnica, apesar de esse não ser uma figura famosa como Moro ou Pontes. Quando na ativa, Heleno chefiou a missão militar internacional no Haiti, tendo sob suas ordens contingentes de 13 outros países – sem dúvida, um grande desafio.

Quanto a Paulo Guedes, já chamado “superministro” da área econômica, não há como negar que esse obteve destaque acima da média em sua área de atuação. O ponto de crítica, portanto, não é o de suas credenciais técnicas, mas sim de quais convicções Guedes traz do mercado financeiro para o setor público. Por fim, a escolha de Onyx Lorenzoni para a Casa Civil não merece comentário, uma vez que o maior atributo do ocupante desse posto deve ser a fidelidade ao presidente.

O novo ministério que se compõe, portanto, tem potencial para acalmar gregos e troianos: afinal, não se trata do grupo de apoiadores fanáticos e inexperientes que tantos pensavam que seria a escolha de Bolsonaro quando eleito. Nos próximos meses, portanto, a vontade de acertar de Bolsonaro já é um grande alívio a todos.

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