PAULO DINIZ

Governo Temer versão 2.0: mais disposto a bater do que a apanhar

Uma nova frente foi colocada em prática por meio de Marun


Publicado em 02 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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O noticiário político durante as festas de fim de ano costuma ser preenchido com amenidades: retrospectivas do ano que se encerra são pontuadas por breves relatos sobre a maneira como os principais políticos brasileiros estão gozando suas férias. Em 2017, entretanto, tem sido diferente. Não apenas o presidente Michel Temer se manteve em atividade, em reuniões que preparam a reforma ministerial, como também um dos principais articuladores políticos do Planalto detonou uma pequena bomba sobre o relacionamento com os governadores.

Poucas semanas após ser nomeado para chefiar a Secretaria de Governo, posto com status de ministério, o deputado federal sul-mato-grossense Carlos Marun disse esperar reciprocidade dos governadores de Estados que receberem apoio financeiro da Caixa Econômica Federal. Com pouca sutileza, Marun se referiu à necessidade de votos para a aprovação da reforma da Previdência, desejo maior do governo federal, e também apontou para o que espera dos governadores que se encontram em aguda crise fiscal: que pressionem seus deputados.

Correligionário de Temer, o novo ministro tem histórico de truculência em seu comportamento na Câmara dos Deputados: palavras fortes, dedo em riste e disposição para acusar e intimidar. Em 2017, Marun ganhou progressivamente os holofotes à medida que Temer necessitou de defensores no Parlamento dispostos a não apenas reunir os votos para afastar as denúncias contra o presidente, como também para falar publicamente a favor do acusado. O segundo papel, ao menos, foi cumprido com esmero pelo deputado pantaneiro.

A declaração de Marun aos governadores indica que a nomeação como ministro de Estado não implicou a suavização de seu estilo tosco de articulação política. Nove governadores do Nordeste subscreveram carta de repúdio ao condicionamento político declarado por Marun à liberação de valores pela CEF. Até mesmo Geraldo Alckmin, governador paulista que faz o mais brando tipo de oposição já registrado, se declarou contrário ao recado do novo ministro da Secretaria de Governo.O estrago causado por Carlos Marun em sua estreia governamental, entretanto, não pode ser

considerado surpresa. A julgar pela forma eficiente como Temer articula com as forças políticas disponíveis, pode-se interpretar a nomeação de Marun a um posto-chave no governo como sinal de que uma nova estratégia deve orientar a ação política do governo federal em 2018. Tendo presidido a Câmara dos Deputados por três mandatos, Temer conhece os humores e dinâmicas do Parlamento nacional como poucos no país: se, em 2016 e 2017, preferiu mostrar seu lado mais suave, priorizando a atração de forças políticas aliadas e dissidentes pela oferta de verbas e cargos, para 2018 parece ter escolhido deliberadamente abrir uma nova frente de atuação, colocada em prática por meio da agressividade de Marun.

Buscar apoio entre adversários, a partir do ataque a seus pontos fracos, significa usar a máquina federal de forma ainda mais intensa do que se fez nos dois últimos anos. Temer responde agressivamente, assim, à perda de partidos aliados como o PSB e parte do PPS e PSDB durante 2017. Com o mesmo movimento, põe contra a parede governadores do PT, PCdoB e até do PMDB que não têm outra opção senão contar com recursos federais. Funcionando esse plano, ou não, o certo é que veremos em 2018, ano eleitoral, um governo Temer disposto a bater mais do que a apanhar.

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