Um dos principais fatores responsáveis pela derrota eleitoral de Jair Bolsonaro em 2022 foi o desgaste político criado pelo então presidente contra si mesmo. Polêmicas vazias, brigas constantes e rivalidades contra figuras sem qualquer relevância eleitoral serviram para tornar Bolsonaro uma figura política cada vez mais desgastada e impopular.
Vale lembrar, nesse contexto, as constantes investidas do então presidente contra o jornalista William Bonner e, na segunda metade do mandato, a cruzada empreendida contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Nenhum desses personagens disputava voto diretamente contra Bolsonaro, o que tornava inútil qualquer vitória que ele obtivesse contra Bonner ou Moraes. Esse comportamento de Bolsonaro foi analisado nesta coluna à época, questionando sobre quando foi que agendas negativas como essas haviam se tornado fatores de popularidade. A resposta veio nas urnas: nunca.
Agora, o presidente Lula parece estar se empenhando para mudar seu estilo político tradicional e, assim, adotar a fórmula fracassada de Bolsonaro. A sequência de declarações controversas de Lula não lhe rendeu um voto sequer e certamente custou a perda de alguns milhares de simpatizantes.
Por exemplo, em rara visita a Belo Horizonte, Lula anunciou investimentos – muito bem-vindos – na rede federal de educação em Minas Gerais. Para prejudicar os efeitos dessa pauta positiva, Lula comentou a dificuldade dos trabalhadores braçais em conseguir parceiras para namoro – em uma forma bem antipática de incentivar todos a buscar mais estudos. Já se foram os dias em que Lula elevava a autoestima da classe trabalhadora, sua principal base eleitoral – hoje em dia, faz o oposto.
A pior situação, entretanto, foi a desastrosa comparação entre o Holocausto e a guerra que ocorre na Faixa de Gaza. Lula não poderia ter obtido qualquer ganho político adicional com essa crítica tão agressiva – quando muito, agradaria a seus adeptos da extrema esquerda. Ainda assim, foi adiante com o comentário desastrado e radical.
Lula tocou no único ponto em que todos os israelenses concordam: não se compara o Holocausto com nada. Agora, atraiu para si a fúria e a mágoa de toda uma nação, em um embate político do qual não pode sair vencedor – em qualquer cenário possível, ainda assim Lula sai desgastado da confusão que criou para si mesmo.
A disputa entre o grupo terrorista Hamas e Israel é tão atroz – com muitos dilemas éticos e vítimas que se contam aos milhares –, que não tem capacidade de gerar qualquer agenda positiva. Toda declaração, posicionamento ou mero comentário são capazes de atiçar o ódio e reverberar politicamente.
Ao não reconhecer o erro tático e insistir no embate, Lula se assemelha ainda mais a Bolsonaro. Agora é alvo de um pedido de impeachment com mais de 130 assinaturas de deputados e dependerá de Arthur Lira para que tal proposta não vá a votação na Câmara – um risco desnecessário, irracional e idêntico à política autodestrutiva de Jair Bolsonaro.