PAULO DINIZ

Novidade e tradição se combinam num formato ainda desconhecido

Simplismo é vê-lo como um confronto entre o velho e o novo


Publicado em 09 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Poucos adesivos em vidros e para-choques dos veículos, panfletos de candidatos distribuídos com parcimônia homeopática, faixas colocadas apenas em poucos pontos estratégicos: esse foi o cenário do primeiro turno das eleições gerais de 2018, as mais limpas, visualmente, desde a redemocratização dos anos 1980. Essas mudanças resultam de alterações profundas na forma como a legislação nacional permite a captação e utilização de recursos pelos candidatos e partidos, assim como por mudanças estruturais na maneira como a sociedade lida com informações e constrói confiança em perfis pessoais e propostas.

Foi em meio a esse cenário que surgiram das urnas alguns resultados surpreendentes. Por exemplo: a ascensão do nanico PSL à condição de segunda maior bancada da Câmara dos Deputados. O partido de Jair Bolsonaro acaba de eleger 52 deputados federais, um salto magnífico em relação a 2014, quando apenas um parlamentar havia sido eleito. No mesmo sentido, o poderoso MDB elegeu 32 deputados federais a menos do que na última eleição, levantando dúvidas sobre suas máquinas partidárias estaduais.

O ponto principal a ser observado é que, da confluência de novos fatores com forças antigas remanescentes, surgiram dinâmicas diferentes na política brasileira. Não é o caso de se acreditar que as redes sociais tenham se tornado o mais decisivo meio de propaganda, mas estamos no momento de descobrir qual o efeito que surge a partir da combinação destas com o velho horário eleitoral gratuito em rádio e televisão.

Essa configuração geral da política brasileira, que ainda demorará ao menos uma década para ser compreendida pelos especialistas, também mexeu com as disputas majoritárias: destaque para a ascensão de Jair Bolsonaro, no contexto nacional, e de Romeu Zema, em Minas Gerais. O ponto em comum entre tais candidatos é que ambos apostaram, conscientemente ou não, que a disputa eleitoral de 2018 não giraria apenas em torno dos mesmos fatores que orientaram as eleições anteriores. Agora, Bolsonaro e Zema chegam ao segundo turno e estão prestes a enfrentar adversários que seguiram trajetórias tradicionalíssimas em suas campanhas até o momento.

Para não cair no simplismo de se descrever o atual segundo turno como uma confrontação entre novo e velho, ou qualquer outro par de opostos do gênero, convém lembrar que Zema e Bolsonaro não representam a reinvenção da forma de se fazer política: ambos conservam elementos do passado, usando-os em proveito próprio. No caso de Zema, por exemplo, foi justamente a participação num debate televisivo que o colocou na vitrine, como opção para o eleitorado ávido por uma terceira via na qual votar. Bolsonaro, por sua vez, revive muito de um discurso antigo sobre o combate à violência urbana, que remonta a um tipo de populismo policialesco que esteve muito em voga entre as décadas de 1980 e 1990 em nosso país.

A política mudou, definitivamente, mas, diferentemente do que muitos queriam ou esperavam, não se trata de uma reinvenção a partir do ponto zero. O teste essencial, que nos permitirá saber o quanto de inovação está presente nesse quadro político, será o das disputas em segundo turno que teremos a partir de agora em Minas Gerais e no Brasil. Nesse sentido, convém deixar a ideologia de lado e enxergar Bolsonaro e Zema em um mesmo time que disputa um duelo entre estruturas e estilos bem distintos contra Anastasia e Haddad. 

Aguardemos o placar final.

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