PAULO DINIZ

Quem mais perde com a candidatura de Anastasia?

Redação O Tempo


Publicado em 27 de março de 2018 | 03:00
 
 
 
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A entrada do senador Antonio Anastasia na disputa pelo Palácio da Liberdade foi um dos acontecimentos mais impactantes do momento pré-eleitoral, que levou o quadro de alianças a se realinhar com rapidez. O deputado Rodrigo Pacheco, recém-filiado ao DEM, perdeu o protagonismo que vinha construindo a duras penas no campo oposicionista. Espera-se que tanto Pacheco quanto seus novos correligionários somem forças aos tucanos para auxiliá-los na reconquista do poder em Minas.

Já Marcio Lacerda não tem tantos motivos para comemorar a decisão de Anastasia. Firmando-se junto a lideranças do interior como o principal nome da oposição, e se apropriando dos espólios da valiosa rede de alianças dos tucanos por todo o Estado, Lacerda certamente perderá parte desse patrimônio político recém-construído. Também especula-se que partidos da coalizão de Lacerda poderiam se reagrupar sob as asas dos tucanos.

Ninguém, porém, tem tanto a reclamar quanto Fernando Pimentel. Entretanto, lideranças do PT mineiro demonstram tranquilidade e, mais do que isso, indicam que um enfrentamento com Anastasia seria cenário favorável. Segundo essa lógica, as sementes da atual crise fiscal foram lançadas durante a gestão de Anastasia, o que permitiria aos estrategistas do PT vincular a falência da máquina pública ao ex-governador tucano. Ainda de acordo com o núcleo político de Pimentel, Anastasia poderia ser associado à imagem desgastada de Aécio Neves, o que teoricamente equilibraria o jogo com o atual governador em relação a suas pendências com o Judiciário.

Esse raciocínio é correto, porém não suficiente. O fato de Pimentel ter pela frente um opositor que considera mais “fácil” de ser batido, antes de mais nada, não elimina os demais problemas que o governador precisa superar para se reeleger.

As eleições estaduais são decididas, em grande medida, como um grande jogo de alianças: os aliados que um candidato ganha, em cada região mineira, transmitem diretamente ao eleitorado a confiança que depositaram no postulante ao governo. Prefeitos, vereadores, líderes comunitários e afins compõem a base de uma campanha vencedora. Portanto, as regras que valem para uma campanha presidencial, mais impessoais e midiáticas, não são tão decisivas no contexto estadual. Essa diferença parece não ter sido percebida pelo núcleo da campanha petista.

Além disso, o fato de a rivalidade entre PT e PSDB ser uma situação conhecida dos petistas não implica vitória para estes. No caso de Minas, Anastasia deixou o governo em um ótimo momento administrativo, e essa imagem ficou marcada junto à população. O argumento petista de que a crise atual foi gerada antes de 2014, caso seja válido, vai demandar forte discurso técnico, algo muito arriscado em tempos de propaganda eleitoral reduzida.

Por fim, é importante considerar um cenário estratégico bastante provável: que Anastasia e Lacerda não se ataquem durante a campanha do primeiro turno, concentrando críticas sobre o adversário maior, Fernando Pimentel. Por mais desgastado que esteja o governador diante do público e de lideranças do interior, o petista ainda tem consigo o controle da máquina pública e o apoio formal do MDB. Com tais vantagens eleitorais a seu favor, Pimentel segue sendo o maior desafio a ser superado tanto por Anastasia quanto por Lacerda. Ex-aliados, Anastasia e Lacerda não devem encontrar dificuldades para negociar esse acordo de não agressão.

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