Direita

Radicais perdem força

A partir de uma política mais calma, podemos começar a sonhar com uma sociedade menos polarizada e em vias de pacificação

Por Paulo Diniz Filho
Publicado em 23 de maio de 2023 | 03:00
 
 
 
normal

Há uma movimentação em curso na política nacional que merece a nossa atenção: o ânimo e o fôlego das correntes radicais da direita estão se esgotando. Figuras como o senador Cleitinho Azevedo adotaram nos últimos dias discursos surpreendentemente equilibrados e conciliadores.

Deputado federal pelo PL, o cearense Yuri Paredão chocou sua bancada recentemente ao posar para fotos com Lula. Poucos dias depois, foi agraciado com a indicação de seu partido para compor como titular a CPI da manipulação dos jogos de futebol – algo que se assemelha mais com um prêmio do que com um castigo.

Também no âmbito do maior bastião do oposicionismo ao governo, o PL, 29 dos seus deputados votaram a fator do regime de urgência para a tramitação do novo arcabouço fiscal – talvez a pauta mais cara atualmente a Lula.

É possível relacionar tais sinais de distensão com as declarações dadas pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, há pouco mais de uma semana: primeiro, afirmou que Bolsonaro “não era normal” e, logo após, contou de uma reunião secreta que teve com Lula durante as articulações para as eleições de 2022. Costa Neto parece estar se definindo em relação a qual das duas alas de seu partido terá seu apreço e apoio: o grupo de moderados, como o cearense Yuri, aparentemente vai prevalecer sobre os incendiários bolsonaristas na preferência do principal chefe do partido político mais poderoso do Brasil no momento.

Como se não bastasse, Bolsonaro em pessoa declarou aceitar sua derrota eleitoral, juntamente com alguns sinais modestos de respeito ao governo liderado por Lula.

Todos esses fatores perdem relevância, entretanto, diante do principal acontecimento da semana passada: a cassação do deputado federal e ex-promotor Deltan Dallagnol. Um dos ícones da nova direita brasileira, Deltan foi um dos responsáveis diretos pela prisão de Lula em 2018, mantendo desde então um discurso antipetista dos mais agressivos.

A queda de Deltan foi interpretada por alguns integrantes da direita radical como um contra-ataque da esquerda, aliada à cúpula do Judiciário – contra essa dupla, pouco se poderia fazer, sendo então mais prudente moderar os ataques ao governo para preservar os próprios mandatos. Uma leitura do cenário político um tanto alarmista, mas cujos efeitos foram rápidos e claros.

O golpe final contra a direita radical partiu da própria direita radical: o deputado federal Paulo Bilynskyj, do PL paulista, em discurso no plenário da Câmara, exaltou a memória de seu avô ucraniano que integrou as tropas de assalto do Partido Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Difícil pensar em uma declaração que pudesse ser mais danosa à imagem dessa corrente política.

Com esse conjunto de fatos acontecendo quase ao mesmo tempo, é possível esperar por tempos mais tranquilos no Congresso Nacional – instância que se tornou o epicentro do poder político no Brasil. Assim, a partir de uma política mais calma, podemos começar a sonhar com uma sociedade menos polarizada e em vias de pacificação.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!