Fenômeno da vez na internet, o baiano Iran Santana tem derrubado paradigmas nas redes sociais recentemente. Na aridez do sertão, Santana demonstra habilidade ao acertar chutes de longa distância em um gol vazio, comemorando seu feito sempre da mesma forma: declara-se “melhor do mundo”, agradece a Deus e grita seu bordão típico – “Receba!”. Autodenominado “Luva de Pedreiro”, Santana acumulou milhões de seguidores em redes sociais, é mencionado por algumas das principais estrelas do futebol mundial e vem assinando contratos de publicidade.

O caso de Luva de Pedreiro é indicativo de como a era digital vem sendo radical ao definir os limites de nossa vida coletiva. Como será, então, o futuro desse jovem baiano como celebridade? Será possível se reinventar, quando seu formato de entretenimento já não for tão interessante para o público?

A dúvida que paira sobre Luva de Pedreiro também incomoda toda uma geração de políticos brasileiros: aqueles que se elegeram pela primeira vez em 2018, com impulso das redes sociais e do desejo de mudança do eleitorado nacional. O formato e a mensagem desses políticos – quase todos do Legislativo – hoje não causam mais tanto impacto, especialmente após quatro anos de ativismo contínuo nas redes sociais. Radicais na forma e no conteúdo, tais parlamentares obviamente não conseguiram entregar a reviravolta que prometeram a seus eleitores na última eleição.

Há variantes nesse fenômeno digital-eleitoral, porém a de maior impacto é aquela cujos representantes se colocam como defensores ferozes dos interesses das classes mais populares. Em Minas Gerais, destacam-se dois deputados: o federal André Janones e o estadual Cleitinho Azevedo. Com perfis extremamente combativos, fala apressada e impositiva, agilidade nos meios digitais e pautas de interesse imediato da população, ambos ultrapassaram a marca de 100 mil votos na última eleição: Janones foi o mais votado em sua categoria, enquanto Cleitinho ficou em quarto. Derrubaram manuais de estratégia política consagrados.

Em 2020, ambos os deputados testaram com sucesso a popularidade no pleito municipal: enquanto Cleitinho elegeu seu irmão Gleidson prefeito de Divinópolis, Janones viabilizou a vitória de sua assessora Leandra Guedes para o comando de Ituiutaba. Trata-se de cidades de grande porte – população superior a 100 mil habitantes –, alta arrecadação e liderança política.

O flerte com o Poder Executivo foi promissor, porém o estilo chamativo desses deputados tende a sofrer com o ritmo lento no qual são planejadas e executadas as políticas públicas. Ao demorarem para oferecer resultados para um público acostumado com a velocidade das redes sociais, Cleitinho e Janones podem colocar suas reputações em grave risco.

Diante desse dilema, cada um optou por um caminho diferente: Cleitinho deve seguir no Legislativo, agora tentando o cargo de senador, enquanto Janones se coloca como pré-candidato a presidente. Ambas as apostas são altas, mas a de André Janones consegue ser ainda mais radical.