Ano ímpar
Dia 6 de fevereiro de 1962, no Rio de Janeiro, morre o pintor paulista, Candido Portinari, com apenas 58 anos. Dia 17 de junho de 1962, o Brasil foi bicampeão mundial de futebol na Copa do Chile. Dia 25 do mesmo junho e do mesmo 1962, morria, em BH, o pintor fluminense, Alberto da Veiga Guignard, 66 anos. Em 4 de agosto, 1962, Los Angeles, morreu Marilyn Monroe, 36. Em 5 de outubro de 1962, The Beatles lançaram o primeiro “single”, o primeiro sucesso, “Love Me Do”. Estas cinco efemérides completam 60 anos.
Ano único
Mui provavelmente, Guignard não gostava de futebol; pintaria Marilyn nua, se pudesse e não conhecia The Beatles. Mas era muito amigo de Portinari. Por isso, custaram a dar-lhe a notícia da morte de Portinari. Mas ao tomar conhecimento, Guignard teria dito: “Agora, eu sou o maior pintor do Brasil”. E ele, sem falsa modéstia, mas no fundo, humildemente, estava certo. Um dos maiores artistas brasileiros, que merece mais reconhecimento. Como Emeric Marcier.
Ano milenar
É a maldição do grande artista pobre que faz colecionadores ricos. Viveu e morreu na penúria, vivia de favores, trocava uma tela por um prato de comida, mas e daí? Ele só pensava em pintura, deixando bem mais de mil telas entre achadas, guardadas e perdidas. Mestre das paisagens de Ouro Preto, cidade amada, musa e adotada; retratos e autorretratos. Quem quiser diminuir o prejuízo da santa ignorância tem agora a exposição “Coleção Brasileira”.
Ano sessentão
Coleção de Alberto e Priscila Freire, até 29 de agosto, no Centro Cultural Banco do Brasil BH, com 20 obras de Guignard, que ganhou uma sala, dentro da mostra. Priscila é especialista em Guignard, foi sua aluna e, entre obras importantes, tem um retrato seu feito pelo mestre. Por falar nisso, a moderna pintura mineira é filha de Guignard e seus alunos já devem estar na terceira geração.
Ano eterno
Detalhe muito interessante é saber como Guignard virou mineiro. Nasceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 1896. Passou anos na Europa, até voltar para o Brasil, sozinho, sem família e sem dinheiro. Em 1944, veio para Minas, a convite do prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, este, aconselhado por dois “mineirocas”, Rodrigo Melo Franco e Gustavo Capanema.
Ano fértil
Dirigiu a Escola de Artes de Belo Horizonte, hoje Escola Guignard. Merece o panteão “apenas” por ter sido professor de mestres como Amílcar de Castro, Iberê Camargo, Farnese de Andrade, Lygia Clark, entre outros. Voltando a honra ao mérito, voltando a JK, foi o único prefeito, governador e presidente visionário que o Brasil já teve.
Ano imortal
Podem falar tudo de JK, mas os belo-horizontinos nunca tiveram um prefeito como ele; os mineiros, um governador como ele e os brasileiros uma presidente como ele. Via JK, BH foi laboratório de Oscar Niemeyer, do mesmo Portinari e de Burle Marx para construir Brasília e nossa melhor arte. JK! E como vemos, ele também “inventou” Guignard e o Brasil Moderno. Que saudade de um político como Juscelino.