Entrevista com Kiko Ferreira
Entrevistar poeta não é prosa, mas uma prova. Tudo ia bem na conversa com Kiko Ferreira até pedirmos um dedo, não de prosa, mas de poesia. Um sopro para terminar a entrevista, sem precisar de aparelhos. Ele aceitou, mas talvez a diagramação, não. Ele nos jogou um raio cadente de letras, se espatifando, eletrizando a página nua. Se o verso sair na horizontal, saibam que, antes, ele pingou.
Kiko, como vai a vida desde 2020?
Como “Bird on the Wire”, do Leonard Cohen: “um pássaro num fio, um bêbado num coral da meia-noite, procurei meu jeito de ser livre”.
E como foi a vida até 2020?
No geral, boa. Desde os 15 anos escrevendo em jornal. Desde os 22, no rádio. Depois dos 27, TV. E recentemente, internet. Participei de projetos de excelência. Na TV fui colunista de Globo e Band Minas. Na TV Horizonte participei do núcleo inicial; criação do projeto. Diretor da rádio Inconfidência e da TV Minas, à qual cheguei a presidente em 2019. Fui curador de muitos projetos importantes, como Ano do Brasil na França. Escrevi em jornais e revistas. Sou parceiro de músicos que admiro. E entrei na coletânea “Entrelinhas, Entremontes”, com 61 poetas mineiros contemporâneos. Enfim, eu era feliz. E sabia.
Em casa de Ferreira, o espeto é de pau, uma caneta, de papel?
Espeto... espeto... espeta. Melhor, aspetta. Aspetto uno spettacolo. Com sotaque de Fellini.
Quando você renascer, quer voltar jogador de futebol, cantor sertanejo, político ou poeta?
Um poeta mais relevante.
Se voltasse como um pintor ou compositor, quem seria?
Da Vinci! Pintor, inventor, cientista, poeta, músico, matemático e “otras cositas más”. Espécie de Wagner elétrico, roqueiro e jazzista, como Frank Zappa.
“Poesia numa hora dessas”?
Poesia sempre. Sem literatura, humor e música, a vida fica menor, mais rasa, medíocre.
Quantos livros publicados?
Dez livros. Em 2022, 40 anos de literatura. Quero fazer um projeto de resgate, de popularização, de recriação do meu trabalho, em parceria com outros artistas, como sempre gostei de fazer.
Você acaba de lançar “Manual de Berros”, o primeiro bancado por uma editora, pela “e Poesia Física”. Feliz? Um reconhecimento?
Eu estava preparado para lançar o “Manual de Berros” em edição independente, quando um amigo mostrou o projeto para o Wallison Gontijo, da Impressões de Minas, que logo comprou a ideia. Muito honrado por entrar num catálogo tão importante e criativo.
Além de berros e poesia, o que o leitor vai encontrar nesse “primo” de Manuel de Barros?
Nessas noites de espanto e incômodo, muitas vezes recorri a poetas que sempre gostei de ler. Entre eles Manuel de Barros. Daí tirei o título.
Peguemos, para terminar, um artigo e uma palavra ao acaso, “O TEMPO”. Rola um haikai ou um haikiku, para quem lê?
Na página nua um
r
a
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