Entrevista com Odilon Esteves
Hoje, amanhã e no próximo fim de semana (sábados às 20h e domingos às 19h) pelo Zoom, na programação do #CCBBemCasa, uma viagem com Clarice ao País das Maravilhas, em “Na sala com Clarice”, a única peça mineira indicada ao Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA de Teatro na Categoria Teatro Virtual. Interpretações online e ao vivo, direto da sala do ator Odilon Esteves.
Odilon, por que Clarice Lispector? Não vale responder com o bom e velho “por que não?”
Porque o “sim”, segundo ela própria, é o começo de tudo. Porque ela pariu muitos mundos. Fala do cotidiano e de subjetividades profundas. Porque ela, às vezes, é um mistério, às vezes, uma revelação, e às vezes, uma pergunta.
Quem é Clarice para e no Brasil? Um mistério? Ilustre desconhecida?
Um tesouro para muitos, um mistério para outros, uma herança a ser descoberta, um convite para quem ainda não entrou em contato com sua literatura.
Pelo menos para você, é a maior escritora brasileira, mesmo nascida na Ucrânia?
O Brasil tem escritoras imensas, não sou capaz de mensurar a maior ou estabelecer um ranking. Clarice me abriu muitas janelas e não tenho como agradecê-la a não ser dizendo com amor o seu nome.
Seria possível uma peça chamada, “Na cama com Clarice”?
Até seria. No inverno deste 2020 pandêmico passei muitas horas debaixo do cobertor, lendo Clarice. Mas, como essa ambiguidade poderia gerar conotação sexual, eu preferiria “Na varanda com Clarice”, “Na praia…”, “No campo…”, “Na cozinha…”, “No quintal com Clarice”.
Como vai o teatro nos tempos do cólera da Covid-19? Em casa com o CCBB?
O presencial em espera. O virtual se inventando. Tenho ficado muito surpreso com a quantidade de gente permitindo que a poltrona do CCBB seja na sua própria casa.
Qual o “cardápio do dia”, até 31 de janeiro?
Varia a cada sessão. São 10 a 12 opções de contos e crônicas de Clarice. O público escolhe os cinco que serão apresentados no dia. Antecipo o “cardápio” nos “stories” do meu Instagram e faço um rodízio, para que o público tenha chance de ver ao menos duas sessões seguidas sem repetições.
A hora da estrela de Clarice chegou?
Muitas vezes! A primeira vez há 100 anos, no instante do parto que a trouxe ao mundo. E, assim como no céu há estrelas que já deixaram de existir e cuja luz continua se irradiando, Clarice, que partiu em 1977, um ano antes de eu nascer, está pra mim cada dia mais viva e brilhante.
Quem é teu público e qual a resposta dele?
Tenho a impressão de que ele é mais ligado à literatura do que ao teatro, inclusive chamo "Na sala com Clarice" de “peça literária”. E é um público diverso, de várias idades, heterogêneo mas com um traço comum: gente sensível, amante da literatura e da palavra oralizada.
Que texto de Clarice “ilustraria” o 2020 que ainda não acabou?
“O ovo e a galinha”, texto que a própria Clarice disse não compreender muito bem.