Entrevista com Edson Brandão
O historiador, por excelência e frequência, Edson Brandão é referência de tudo o que é cultura em Barbacena. Fossem outras perguntas, outros temas, teria a resposta, literalmente, na ponta da língua, com severo respeito pelo vernáculo. Em Barbacena, tudo bem ou pode melhorar? “Ciclos bons e ruins, sem perspectivas de continuidade. Mas o cidadão é muito maior do que a cidade e segue”.
O que anda fazendo desde 2020?
Não vivi um dia sequer de quarentena, mas senti a vida mudar. Como meu trabalho é mental, mais recluso, continuei produzindo, lendo e escrevendo.
Adaptou-se bem aos novos tempos?
O que mais gostei foi que minha casa virou escola do Bernardo, meu filho. Ele se apossou da biblioteca, do computador, scanner. Outro dia, tinha uma tarefa sobre Oscar Niemeyer. Mostrei-lhe uma velha foto minha com o dr. Oscar. Mostrei o desenho que ganhei do mestre... Ele adorou! A ficha caiu: “Meu Deus, o moleque tem um desenho do Niemeyer na parede e não sabia!” Estudar em casa tem sido tempo de descobertas para ele.
As letras e a “última flor do Lácio, bela e inculta”, ganharam ou perderam na pandemia?
Pior que a Covid-19 é o “vírus do Ipiranga”, a mórbida atração que uma parte do Brasil cultiva pela burrice mais escancarada. As letras não devem ser confundidas com o beletrismo, mera ostentação de erudição oca. Mas esse papo de “todx”, de “corpa”, que parte da intelligentsia brasileira abraça a sofreguidão quase tarada, enfraquece a amizade entre a língua e a capacidade dela de refletir a realidade atual.
Falemos de outra praia, em que você é salva-vidas, a história! Algum período preferido?
Aqui, em Minas, há verdadeira obsessão pelo século XVIII, período riquíssimo, o Ciclo do Ouro. Mas gosto muito dos modernistas. Virou moda torcer o nariz para 1922, mas o tema me atrai, e Minas tem um papel importante. Minas já era cosmopolita há dois séculos. Blaise Cendrars na cadeia de Tiradentes é ótimo!
Barbacena ficou parada na história?
De jeito nenhum! Barbacena está para a história assim como a Cabana da Mantiqueira para a BR–040! Quase tudo de relevante dos últimos 300 anos fez pelo menos um pit-stop em Barbacena! Somos o resultado do Caminho Novo. Mas é preciso entender nosso papel como um destino final. Todas as cidades são históricas, porque têm história, mas poucas permearam tanto a história recente do Sudeste brasileiro como Barbacena.
E o banquete do imperador Pedro II em Barbacena?
Foi poucos meses antes de ser deposto pelos militares republicanos, em 1889. Um jantar chique, realizado no Sanatório, o mesmo lugar que depois se transformaria no terrível Hospital Colônia... sinistro, não?
Agora, um pouco de arte, Emeric Marcier...
Marcier recebeu de Minas retrospectiva digna no seu centenário, em 2016. Um artista atemporal!
Para terminar, deixemos o passado e falemos do futuro. Planos para 2022?
Sobreviver, pagar boletos e escrever!