PAULO PAIVA

2020 mais 1 ou mais um 2020?

Suspeito que essa passagem não significará o princípio do ano 2020 mais um, mas, sim, mais um 2020


Publicado em 01 de janeiro de 2021 | 07:00
 
 
 
normal

Adeus, ano velho. O novo ano começou hoje. Feliz ano novo. Simples como se a mudança do calendário desse início a uma nova vida, independentemente do passado, sem os problemas e as mazelas, que ficariam para trás. Suspeito que essa passagem não significará o princípio do ano 2020 mais 1, mas sim mais um 2020. Inexoravelmente, 2021 recebeu as crises do ano que findou; será sua extensão, pois 2020 não acabou.

A principal herança é a pandemia que marcou o ano passado, levou a economia para a recessão, contaminou mais de 7 milhões de pessoas e deixou um recorde de mais de 190 mil mortes. Pela primeira vez na história do país, a expectativa de vida ao nascer diminuiu dois anos.

A recrudescência da pandemia no final do ano se estenderá pelos primeiros meses deste ano. Seu controle é incerto. Enquanto vários países, inclusive a vizinha Argentina, já iniciaram a imunização de suas populações, o Brasil ainda não tem uma vacina aprovada pela Anvisa, nem mesmo para uso emergencial, não tem estoques suficientes de seringas; e suas autoridades batem cabeça com planejamentos malfeitos, informações truncadas e respostas evasivas. O mais provável é que completemos um ano de pandemia sem o início da vacinação.

A economia não retornará à normalidade sem a efetiva imunização de toda a população já em progresso. Os estímulos dados no ano passado, amparados no estado de emergência, findaram ontem. A população mais vulnerável não terá mais o auxílio emergencial, tampouco as empresas terão os benefícios de crédito. O Orçamento da União para este ano não foi ainda aprovado pelo Congresso. O dilema entre controlar a expansão da dívida pública e estender o programa de ajuda emergencial, qualquer que seja o seu valor, atormenta e paralisa o governo. O primeiro trimestre deverá ser pior do que foi o último de 2020.

No âmbito político, as incertezas não serão menores. As eleições das Mesas da Câmara e do Senado sinalizarão como ficarão as relações entre o Executivo e o Legislativo. Mas as incertezas não cessam por aí. Desde a desastrada apreciação da possibilidade de que os atuais presidentes das Casas parlamentares pudessem se candidatar à reeleição, o STF está em chamas, quer por conflitos de interesses, quer por vaidades, ou por ambos.

Para mim, um leigo, parece que se tentou arranjar um jeitinho brasileiro na complexa hermenêutica jurídica, tão essencial à interpretação das leis. Eliane Cantanhêde, no “Estadão”, nesta semana, revelou que o ministro Lewandowski liberou para os advogados do ex-presidente Lula o acesso aos arquivos hackeados da Lava Jato. Não é difícil supor o impacto explosivo dessa decisão na política, com possível revisão das decisões que condenaram o ex-presidente, podendo, inclusive, torna-lo elegível em 2022.

Eu tenho pensado muito nesses cenários. Preparem seus corações, porque este ano será de grandes emoções. Deus permita que eu esteja errado, como cantou Taiguara.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!