Nunca antes em nosso país se deu tanta atenção aos vencedores do Prêmio Nobel de economia como neste ano. Daron Acemoglu, James Robinson e Simon Johnson concedem entrevistas para jornais de circulação nacional, e colunistas e analistas dedicam seus espaços para nos explicar a importância desses professores para o conhecimento de processos que pertencem ao campo da nova economia política. Muitos tentam explicar como o arcabouço analítico deles ajuda-nos a entender o nosso Brasil.
As pesquisas de Acemoglu, Robinson e Johnson seguem longa tradição de ganhadores do Nobel que utilizaram o rigor da análise econômica para compreender o papel das instituições no progresso das nações, iniciada com o trabalho seminal de Douglass North (Nobel em 1993), que demonstrou que as instituições, tanto formais quanto informais, são as regras do jogo econômico. Instituições são restrições à liberdade humana, na visão de North.
De propósito, não utilizam a noção usual de desenvolvimento econômico, distinguindo-se da visão impregnada pelo determinismo evolucionista, como a de W.W. Rostow (“Etapas do Desenvolvimento Econômico”, 1960) e explorada por Kuznets (Prêmio Nobel em 1971) em seus memoráveis estudos empíricos sobre a evolução da renda per capita e da desigualdade. Esclarece-nos Laura Karpuska (2024) que “não perguntam sobre crescimento, mas sobre prosperidade”.
Destaco dois conceitos que são fundamentais para entender esses autores: prosperidade e liberdade. Prosperidade resulta da interação entre progresso e instituições. Progresso tem várias causas, principalmente a inovação tecnológica, que definem as formas como são estruturadas a produção e o consumo, que, por seu lado, são organizadas por instituições que, sendo resultados de decisões políticas, podem satisfazer os interesses de uns poucos privilegiados (extrativistas) ou, ao contrário, estabelecer as bases para uma prosperidade ampla da população (inclusivas).
Liberdade (“O Corredor Estreito”, 2019) segue a tradição de John Locke (1632-1704), que afirma somente ser perfeita quando alguém possa determinar suas ações e dispor de seus bens como achar adequado, sem pedir licença ou depender da vontade de qualquer outra pessoa. Também, eles se alinham à noção moral de liberdade de Amartya Sen (“Desenvolvimento como Liberdade”, 1999), outro Prêmio Nobel (1998). As instituições inclusivas são condição necessária para a prosperidade. A tensão entre Estado e sociedade é inerente à busca da prosperidade integral.
Em “Poder e Progresso” (2023), Acemoglu e Johnson mostram que o progresso depende das escolhas feitas sobre o uso e os avanços da tecnologia. No entanto, mais tecnologia não necessariamente implica mais prosperidade. O desafio para combinar inovações tecnológicas, que promovam o progresso, com instituições inclusivas, garantidas pela democracia, ainda persiste, inclusive no Brasil.