Ao se interromper o processo de lento crescimento que ocorria desde 2017, o desempenho da economia brasileira no início deste ano mostrou-se desalentador. As avaliações do Banco Central registradas na ata do Copom deste mês apontam reversão na recuperação e a possibilidade de a estagnação se prolongar até o fim do ano. Também alertou que a reforma da Previdência é condição necessária, mas não suficiente, para a “retomada da economia em patamares mais robustos”; isso dependerá de “outras iniciativas que visem ao aumento da produtividade, ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios”; temas que vão além da política macroeconômica aguardando uma agenda de ações coordenada do governo.

Nessa terça-feira, falando sobre a situação fiscal dos Estados e da União no STF, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, confirmou as avaliações do Banco Central. Mansueto afirmou que, mesmo com a reforma da Previdência, o governo não conseguirá aumentar os investimentos e, sobretudo, o déficit primário continuará crescendo nos próximos anos da administração Bolsonaro; o que significa dizer que a relação entre dívida pública e PIB seguirá sua perigosa trajetória de crescimento. O equilíbrio fiscal está longe de ser alcançado apenas com a reforma da Previdência.

Se esses entendimentos já eram consensuais entre especialistas, agora recebem a roupagem oficial de Brasília.

No entanto, no Brasil real há uma profunda crise que clama por soluções urgentes. Dados do IBGE revelam que mais de 13,4 milhões de brasileiros estão desempregados, dos quais 66,5%, na faixa etária de 18 a 39 anos. A taxa de desemprego de jovens entre 18 e 24 anos é de 27,3%. Somando aos desempregados, os subocupados, os desalentados e a força de trabalho potencial, o IBGE chega ao total de 33,167 milhões trabalhadores à margem do mercado de trabalho. É um volume de pessoas espalhadas por todo o continente brasileiro equivalente à população da Venezuela (32,896 milhões)!

A crise social é gravíssima. Já no sexto ano sem absorção de mão de obra, o estoque de pessoas fora da atividade produtiva se avoluma, como se avolumam o desalento, a desilusão e o desespero na população.

A crise não foi criada pelo atual governo, mas as soluções devem dele brotar e florescer. Não é hora para atiçar rusgas antigas, antecipar campanhas eleitorais ou desviar esforços para questiúnculas menores e lides inúteis. É hora para acabar com ódios e intolerâncias.

A hora exige lideranças lúcidas e serenas, alianças políticas com interesses superiores e parcerias entre os setores público e privado buscando salvar o país da depressão e oferecer oportunidades àqueles que foram excluídos no passado recente.

A liderança do presidente é fundamental para conciliar interesses, transmitir confiança e governar para e com todos na construção dos caminhos da recuperação.

Cuidado, porque a Venezuela está aqui.