PAULO PAIVA

Acorda, Brasil

É impressionante como esse vergonhoso desempenho da economia não sensibiliza governantes e políticos


Publicado em 11 de março de 2022 | 04:00
 
 
 
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Crescendo 4,6% no ano passado, a economia brasileira atingiu um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 8,7 trilhões, que, dividido pela população residente total, perfaz o valor de R$ 40.688,10 por habitante, conhecido como “PIB per capita”.

Em 2020, devido ao impacto da Covid-19, o PIB havia encolhido 4,1%, tanto pela paralisação das atividades produtivas quanto pela retração do consumo. Fortes quedas ocorreram na construção (-7,05%), na indústria de transformação (-4,3%), nas atividades de outros serviços (-9,4%), que incluem os serviços pessoais e os prestados às famílias, e no consumo das famílias (-5,5%), maior retração do consumo doméstico em 25 anos. A agropecuária foi o único dos três grandes setores do lado da oferta que teve resultado positivo (+2,0%).

No ano passado, ao contrário, a agropecuária ficou praticamente estagnada (-0,2%), enquanto voltaram a crescer construção (+9,7%), indústria de transformação (+4,5%) e consumo das famílias (+2,0%). Ganhos expressivos ocorreram também no investimento (+17,2%) e na exportação de bens e serviços (+5,8%). Assim, com crescimento acumulado de 1,0% nos dois anos, a economia retornou ao seu nível de 2019. A perda de 2020 devido aos efeitos da pandemia, principalmente no primeiro semestre, foi compensada pela recuperação de 2021, levando muitos apressados a supor uma recuperação em forma de V.

Qual o quê! A tendência da economia brasileira, nas últimas quatro décadas, mostra desempenho volátil e lento. Os resultados desde a década passada chamam atenção. Tomando 2011 como referência, o PIB acumulou o pífio crescimento de 3,3% nos últimos dez anos. Nos últimos seis, esteve abaixo do nível de 2011, em três deles (2016, 2017 e 2020), e acima nos outros três (2018, 2019 e 2021).

O PIB per capita, terminou 2021 4,8% abaixo de seu nível de dez anos atrás. Aliás, na última década, apenas em 2012, 2013 e 2014, seu nível foi superior ao de 2011. Já são sete anos que a renda per capita está menor do que a do início da década de 2010.

O período mais severo da pandemia pode ter passado, mas a expectativa para o crescimento da economia não é alvissareira. A mediana das estimativas do mercado (Relatório Focus) para este ano indica mero 0,42%, um terço do que foi a média do crescimento em 2018 e 2019 (1,5%). Crescimento do PIB menor do que o da população empurra mais brasileiros para a pobreza e amplia a concentração de renda.

O ambiente externo é desafiador e não oferece certezas de um novo ciclo de expansão mundial. Pelo contrário, as tensões geopolíticas e guerras afetam negativamente os negócios, restringem o comércio internacional e desestimulam novos investimentos.

É impressionante como esse vergonhoso desempenho da economia não sensibiliza governantes e políticos. Crescimento não é como chuva que cai do céu. Não se pode negar sonho e prosperidade às gerações futuras. Acorda, Brasil!

 

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