Querida Vânia, se estivéssemos em um mundo normal, hoje eu iria ter-me com você na missa pelo transcurso do sétimo dia da morte do Júlio, abraçá-la e dividir nossa tristeza profunda e nossa alegria por ter convivido com ele. Mas, se estivéssemos em um mundo normal, não haveria essa missa, porque ele estaria aqui conosco. Júlio nos deixou porque não vivemos em um mundo normal.

Vidas ceifadas diariamente estão deixando a nossa gentil pátria mãe em prantos, famílias destroçadas, sonhos dissipados e amores interrompidos. Quando, em 15 de maio, publiquei neste espaço a coluna “Há mais do que números”, não imaginava que apenas 56 dias depois veria um amigo tão próximo ser fulminado pela flecha traiçoeira da Covid-19.

No meu celular está registrada a última mensagem que ele me enviou, às 21h do dia 11 de junho, dizendo-me: “obrigado. Estamos saindo dessa”. Dois dias depois, foi internado e, no dia 11 de julho, perdeu a batalha contra o vírus.

Vânia, você sabe que Júlio teve duas grandes paixões. Você conviveu muito bem com a outra, o BDMG. Graças à sua competência, dedicação, integridade e liderança, e graças a você, que soube compartilhá-lo com o seu trabalho, Júlio seguiu sua brilhante carreira, de estagiário a presidente, sem um dia ausente, como diria o senador Anastasia. Foi fiel e leal à família e ao BDMG, seus dois amores.

Júlio ajudou o BDMG a transpor os tempos difíceis dos anos 80 e 90 e deixou sua contribuição na recente reinvenção da instituição para enfrentar a crise atual e atuar na construção de um novo ciclo de desenvolvimento, inclusivo e sustentável. Após a aposentadoria, continuou presente na vida do banco, então no comitê de auditoria.

Antes de partir, Júlio viu o BDMG bater o recorde histórico de desembolsos em um semestre e acessar o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), cumprindo seu objetivo para amenizar os efeitos negativos da pandemia.

Partiu orgulhoso com o prêmio CFI 2020, que o BDMG conquistou na categoria de melhor banco de impacto socioeconômico no Brasil, pelo reconhecimento à sua missão de apoiar o crescimento econômico com responsabilidade socioambiental.

Não há ambiguidade ao unir dor e júbilo nessa hora. Tristeza e alegria são dois polos do sentimento humano que, embora opostos, são separados por uma tênue linha. Nessa despedida, a dor da inexorável separação se entrelaça à alegria e ao orgulho de ter tido o privilégio de sua convivência.

Júlio deixou uma vida irrepreensível de pai e servidor público. Sua família e seus amigos manterão vivas suas belas memórias. Seu rico e generoso legado fica como exemplo para suas filhas, seus netos e para as novas gerações do BDMG. A saudade dele nos manterá unidos na dor e na alegria.

Desconfio que Júlio tenha levado consigo os sonhos de ver o América campeão mineiro e de voltar à Série A, no próximo ano.